Os indícios de como ultimamente se deixa o ser encontram-se nas proclamações das “ideias” e dos “valores”, no vai-e-vem compulsivo da celebração do “agir” e da necessidade absoluta do “espírito”. Tudo isso já está implantado no mecanismo de mobilização dos processos de ordenamento e organização. Estes já se determinam em si mesmos pelo vazio propiciado quando se deixa o ser. É no meio desse vazio e abandono que o homem, ávido de si mesmo, encontra como única saída para salvar a subjetividade no super-homem o consumo dos entes no fazer da técnica, a que também pertence a cultura. Sub-humanidade e super-humanidade são o mesmo. Pertencem uma à outra, da mesma maneira que, no animal rationale da metafísica, o “sub” da animalidade e o “super” da ratio estão insoluvelmente acoplados numa correspondência. Deve-se pensar aqui sub e super-humanidade metafisicamente e não como valores morais.
Como tal e em decurso disso, o consumo dos entes determina-se pela mobilização em sentido metafísico, onde o homem se faz “senhor” do “elementar”. O consumo inclui o uso regulamentado dos entes, que se tornam oportunidade e matéria para os desempenhos e sua intensificação. Usa-se, por sua vez, esse consumo para a utilidade da mobilização. À medida, porém, que a mobilização só consegue chegar na intensificação incondicional e no auto-asseguramento, tendo como única meta a falta de meta, o uso se torna abuso (Ist die Nutzung eine Vernutzung). [Superação da Metafísica, EC]