O ser-aí no sentido do outro início é o que nos é ainda completamente estranho, aquilo que nós nunca encontramos previamente dado, que só podemos ressaltar no salto para o interior da fundação da abertura do que se encobre, daquela CLAREIRA DO SEER, na qual o homem futuro precisa se colocar, para mantê-la aberta. [tr. Casanova; GA65: 173]
No outro significado futuro, o “ser” não tem em vista ocorrência, mas suportabilidade insistente como fundação do aí. O aí não significa um aqui e um lá de algum modo determinável a cada vez, mas sim a CLAREIRA DO SEER mesmo, cuja abertura só arranja o espaço para cada aqui e lá possível e o erigir do ente em uma obra, um ato e um sacrifício históricos. [tr. Casanova; GA65: 173]
Se a verdade significa aqui a CLAREIRA DO SEER como abertura do em meio ao ente, então não se pode de modo algum perguntar sobre a verdade dessa verdade, a não ser que se tenha em vista a correção do projeto, o que, porém, perde de vista em múltiplos aspectos o essencial. Pois não se pode perguntar por um lado sobre a “correção” de um projeto em geral, nem tampouco sobre a correção do projeto, por meio do qual a clareira em geral é fundada enquanto tal. Por outro lado, porém, a “correção” é um “modo” da verdade, que permanece aquém da essência originária enquanto sua consequência e, por isso, já não se mostra como suficiente para conceber a verdade originária. [tr. Casanova; GA65: 204]
No ser-aí, para o qual o homem volta a tomar pé sobre si por meio da transformação transitória de sua essência, só tem sucesso uma preservação do seer naquilo que aparece pela primeira vez por meio daí como um ente. Se é dito em Ser e tempo que, através da “analítica existencial”, o ser do ente não humano se torna pela primeira vez determinável, então isso não significa que o homem seria o ente em primeiro lugar e de saída dado e que seria de acordo com a sua dotação de medida que os outros entes obteriam a cunhagem de seu ser. Tal “interpretação” supõe que o homem continuaria sendo sempre pensado ao modo de Descartes e de todos os seus sucessores e meros adversários (mesmo Nietzsche está entre eles) como sujeito. Isso, porém, é para nós a meta mais imediata: não estabelecer mais em geral o homem como um subjectum, uma vez que nós o compreendemos de antemão a partir da questão do seer e apenas assim. Se, contudo, apesar disso, o ser-aí ganhar o primeiro plano, então isso significa: o homem, concebido de acordo com o ser-aí, funda sua essência e o caráter próprio de sua essência no projeto do ser e se mantém, por isso, em todo comportamento e em todo modo realizado de se comportar no âmbito da CLAREIRA DO SEER. Esse âmbito, no entanto, não é inteiramente humano, isto é, não é determinável e sustentável por meio do animal rationale, nem tampouco por meio do subjectum. O âmbito não é em geral nenhum ente, mas pertence à essenciação do seer. Concebido de acordo com o ser-aí, o homem é aquele ente que, sendo, pode perder a sua essência e, com isso, sempre está certo de si mesmo da maneira mais incerta e ousada possível, o que acontece, porém, com base na entrega à responsabilidade pela guarda do seer. O primado do ser-aí não é apenas o oposto de todo e qualquer tipo de humanização do homem, ele também fundamenta uma história completamente diversa da essência do homem, que nunca tem como ser concebida a partir da metafísica e, por isso, também não a partir da “antropologia”. Isso não exclui, mas inclui o fato de que o homem agora ainda é mais essencial para o seer, por mais que ele venha a ser avaliado como mais desimportante a partir do “ente”. [tr. Casanova; GA65: 271]