Ciocan (2014:24-25) – não existenciais

Por exemplo, sobre o ser-no-mundo (a estrutura que abre a analítica) Heidegger nunca diz que é um existencial; ao contrário, é caracterizado como a “constituição fundamental (Grundverfassung)” do Dasein (SZ, 52, 59, 62) ou como o “a priori” da explicitação do Dasein (SZ, 41). A preocupação (Sorge), também, a estrutura que encerra e totaliza os resultados da analítica, nunca é determinada como Existenzial; é, por sua vez, o ser do Dasein (SZ, 180), o sentido existencial (existenzialer Sinn) do ser do Dasein (SZ, 41), o fenômeno unitário que reúne existencialidade, facticidade e decadência, a estrutura que articula originalmente o ser-adiante-de-si, o ser-já-em e o ser-junto-de (SZ, 193), o fenômeno cujo significado ontológico (ontologischer Sinn) é a temporalidade (SZ, 323), mas nunca propriamente um Existenzial. Consequentemente, nenhum dos dois “suportes” da analítica existencial é explicitamente determinado como Existenzial. Os existenciais, ao que parece, devem, portanto, ser colocados em algum lugar “entre” esses dois grandes colchetes, um abrindo e o outro fechando.

Mas esse “entre” é diferenciado. Como vimos, nesse ‘intervalo lógico’ encontramos existenciais, bem como outras estruturas. Entre estas últimas, devemos mencionar, é claro, as determinações categóricas: algumas primárias (como Zuhandenheit, Vorhandenheit, Zeughaftigkeit, Verweisung, Zeugganzheit, Bewandtnis, Bedeutsamkeit), outras secundárias (como das Wozu einer Dienlichkeit, das Wofür einer Verwendbarkeit, etc.), que se referem não ao ser do Dasein, mas ao ser do ente intramundano que o Dasein pode encontrar de uma forma ou de outra. Qual é, então, o limite entre uma estrutura que, sem ser uma categoria e pertencendo verdadeiramente ao ser do Dasein, não é (determinada como) Existenzial?

Além disso, de um ponto de vista analítico, os existenciais não estão situados apenas “entre” o ser-no-mundo e a preocupação (Sorge), ou seja, entre o parágrafo 12 (ET12), que abre o tema do In-der-Welt-sein, e o parágrafo 41 (ET41), que determina o ser do Dasein como preocupação. A verdade, por exemplo, é determinada como Existenzial, mas é tematizada no parágrafo 44 (ET44). Além disso, poderíamos ter pensado que a “lista” de existenciais teria sido empregada exclusivamente na primeira seção da obra, enquanto a segunda seção teria mostrado seu funcionamento temporal. Mas os conceitos de fim (Ende) e totalidade (Ganzheit) — determinados textualmente como Existenzialen — são anunciados e analisados na segunda seção da obra. Assim, parece muito difícil obter uma perspectiva unitária sobre o conceito de Existenzial, apesar de nossa necessidade de simetria.

(CIOCAN, Cristian. Heidegger et le problème de la mort: existentialité, authenticité, temporalité. Dordrecht: Springer, 2014)