Wissenschaft der Logik
Para conseguirmos, através do seminário, uma visão global da metafísica hegeliana, escolhemos como expediente uma discussão do trecho com o qual começa o primeiro livro da Ciência da Lógica, “A Doutrina do Ser”. já o título do trecho dá, em cada palavra, bastante que pensar. Ele diz: Com que se deve começar a ciência? A resposta de Hegel consiste na justificação de que o começo é de “natureza especulativa”. Isto quer dizer: o começo não é nem imediato nem algo mediado. Procuramos dizer a natureza deste começo com um princípio especulativo: “o começo é o resultado”. Isto tem significação múltipla, conforme a múltipla significação dialética do “é”. Uma vez isto: o começo é – tomado o resultare literalmente – o rebate que emerge da plenificação do movimento dialético do pensamento que se pensa a si mesmo. A plenificação deste movimento, a ideia absoluta, é o todo fechado e desenvolvido, a plenitude do ser. O rebate que emerge desta plenitude produz a vacuidade do ser. Com ela deve-se começar na ciência (com o saber absoluto que se sabe a si mesmo). Começo e fim do movimento, e antes disto o movimento mesmo, permanece, em toda parte, o ser. O ser é (west) enquanto movimento que circula em si mesmo, indo da plenitude para a mais exterior exteriorização e desta para a plenitude que se plenifica. O objeto do pensamento para Hegel é assim o pensamento que se pensa a si mesmo enquanto ser que circula em si. Invertido, não apenas com razão, mas por necessidade, o princípio especulativo sobre o começo se formula: “O resultado é o começo”. Com o resultado, na medida em que dele resulta o começo, se deve propriamente começar. (MHeidegger A CONSTITUIÇÃO ONTO-TEO-LÓGICA DA METAFÍSICA)
Hegel pensa o ser em sua vacuidade mais vazia, porquanto em sua máxima generalidade. Pensa o ser ao mesmo tempo na sua plenitude acabada e perfeita. Entretanto, o filósofo designa a filosofia especulativa, isto é, a filosofia propriamente, não onto-teo-logia, mas “Ciência da Lógica”. Com esta designação Hegel traz algo decisivo à luz. Não há dúvida que se poderia esclarecer, num instante, a designação da metafísica como “lógica” apontando para o fato de que para Hegel “o pensamento” é o objeto do pensamento, sendo esta palavra entendida como singulare tantum. O pensamento, o ato de pensar, é, manifestamente, e, segundo uso antigo, o tema da lógica. Certamente. Mas também tão indiscutivelmente está constatado que Hegel, fiel à tradição, localiza o objeto do pensamento no ente enquanto tal e no todo, no movimento do ser, desde a sua vacuidade até sua plenitude desenvolvida.
Como pode, entretanto, o “ser” em geral decair até o ponto de se apresentar como “o pensamento”? De que outra maneira que através do fato de o ser vir caracterizado previamente como fundamento do pensamento, entretanto – porque pertence à unidade com o ser -, se recolher no ser enquanto fundamento, ao modo do explorar e fundar. O ser se manifesta como pensamento. Isto significa: o ser do ente se desoculta como o fundamento que a si mesmo explora e funda. O fundamento, a ratio são, segundo a essência de sua origem: o logos no sentido do deixar-estar-aí que a tudo reúne: o hen panta. Assim, pois, em verdade, para Hegel “a Ciência”, quer dizer, a metafísica, não é “lógica” porque tem como tema o pensamento, mas porque o objeto do pensamento permanece o ser. Este, entretanto, desde a aurora de seu desocultamento, interpela, através de seu caráter de logos, de fundamento fundante, o pensamento e lhe impõe a tarefa de fundamentar. (MHeidegger A CONSTITUIÇÃO ONTO-TEO-LÓGICA DA METAFÍSICA)