Caron (2005:83-86) – si-mesmo, eu, Dasein, temporalidade

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Si mesmo não é eu, mas eu é fenômeno de si mesmo. Temos, portanto, de acceder primeiro à presença de um tal processo, e depois perguntar em que condições é que esse processo é possível. Mas como pensar este si que, ultrapassando a estrutura fixa do ego, o funda ao mesmo tempo na sua fixidez? Enquanto o homem for pensado como um ente subsistente, ou o sujeito como uma substância, (84) enquanto o ser for interpretado no modo de ente, e enquanto o ente fornecer a medida para toda a hermenêutica da ipseidade, perde-se o domínio que no homem permanece em contínua proximidade com o ser. Este domínio em que o homem aparece como uma relação ao ser é o que Heidegger chama de Dasein. De que forma é que o Dasein no homem o diferencia radicalmente do animal e deixa de fazer do corpo o lugar da individualidade? De que forma é que o si humano é irredutível a qualquer tipo de individualização biológica, e a sua identidade pessoal à simples unidade física de um organismo? Em que medida é que uma temporalidade originária, apanágio exclusivo do si humano enquanto Dasein, é suficiente para determinar a multiplicidade estrutural e, no entanto, ontologicamente estruturada da ipseidade? Como o si pode manter uma relação com o mundo e consigo mesmo e, em particular, como é que o si pode entreter uma relação com o seu próprio ser-em-relação e com todas as várias relações que o constituem? “Em que direção deve o homem situar-se e em relação a quê, para que tenha assim esta garantia de encontro com a sua essência? [Em que medida o homem é um, ele próprio colocado em relação à sua relação e às suas relações? [GA66:154-155]. Em suma, surge uma segunda ordem de questões em torno daquilo a que Heidegger chamou desde cedo a “temporalidade do Dasein”, que ele apresenta como a estrutura ontológica da ipseidade. O pensamento deve então progredir, com base nesta aquisição, da temporalidade da ipseidade ao ser-temporal.

original

  1. C’est une attitude méthodologique et philologique que nous avons voulu nous imposer comme élémentaire.[↩]
  2. M. Haar, Heidegger et l’essence de l’homme.[↩]
  3. GA13:90; Q III et IV, p. 15.[↩]
Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

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