Caron (2005:773-774) – o Dasein

destaque

Heidegger não diz “o Dasein” para evitar dizer “o homem” ou “o sujeito”, como que por uma espécie de coquetismo linguístico especulativo inexplicável, porque se trata menos, na noção de Dasein, de designar o ente que esta noção qualifica, do que de nos dar a pensar o que ela supõe deste ente. De todos os entes, só o homem está aberto ao ser, e é a esta abertura, muito mais do que ao ente que ela determina, que Heidegger chama “Dasein”. Assim, diz Heidegger, “o Dasein não é nada de humano” [GA9, p. 397 : Q I e II, p. 214], e “o ser do Dasein não deve ser deduzido de uma ideia de homem” (SuZ.p. 181-182), mesmo que só o homem tenha acesso ao Dasein e se desdobre no sítio deste Da-Sein, isto é, no plano singular onde o ser é ele próprio fenômeno de sua não-entidade, no plano onde “há ser”. O Dasein não é o “ser-aí”, mas sim, e se tivermos de nos forçar a traduzir o que quase todos admitiram ser intraduzível, o “aí-ser”: aí, há ser enquanto ser. O Dasein representa o domínio essencial, o Da, no qual o homem se situa como relação ao ser. Dasein não designa nem o sujeito, nem o homem, nem o indivíduo, nem a pessoa, mas aquela estrutura ontológica do si mesmo pela qual é inerente ao si de se reportar transcendentalmente ao ser, este reporte ao ser precedendo à aparição de todo ente, aí compreendida àquela do si a si mesmo.

Original

CARON, Maxence. Pensée de l’être et origine de la subjectivité. Paris: CERF, 2005.

  1. GA9, p. 397 : Q I et II, p. 214, qui renvoie à une phrase-résumé de la perspective de Sein und Zeit, prenant place au S 43 de la première édition de Kant und das Problem der Metaphysik.[↩]
Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

Designed with WordPress