Caron (2005:327-328) – subjectum

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O ego cogito, o Eu, a razão, o espírito, a pessoa: “estas regiões, em conformidade à omissão completa do ser, permanecem não questionadas quanto ao ser e à estrutura de seu ser” 1. Esta nota de Heidegger põe em evidência a contemporaneidade existente entre o esquecimento da estrutura do si mesmo e a omissão de uma interrogação sobre o ser. Não pensando nem mais no sentido da palavra “ser”, nos dispensamos de pronto da tarefa de pensar esse mesmo que pensa o ser. Assim aparece isto que uma longa tradição chamou o “sujeito”, o subjectum, quer dizer o espírito menos a compreensão de ser ou a tecedura-de-relação que lhe é própria. O “sujeito” da metafísica, é portanto o homem que passa sob silêncio seu próprio ser-relacional e recusa considerar este ser-relacional como dando a medida. Este ser-em-relação tentará e como pode, de transparecer através da estrutura substancial da subjetividade doravante colocada e de fazer valer seus direitos (como é possível ver em Kant ou no “idealismo alemão”); mas Heidegger sublinhará em muitas ocasiões que as múltiplas tentativas de abrir a esfera sempre já fechada da subjetividade metafísica não serão senão a manifestação de uma tendência repetida a entender a influência do sujeito a sempre mais objetos a fim de submeter em última instância a totalidade do ente à normatividade do ego. De Descartes a Nietzsche, passa-se do sujeito “mestre e possuidor da natureza” ao sujeito “mestre e senhor da Terra”; não se faz, dito de outro modo, senão se conduzir do mesmo ao mesmo com pouca diferença de efetividade. Mas mostremos então as fontes ocultas desta metafísica da subjetividade.

Original

(CARON, Maxence. Heidegger. Pensée de l’être et origine de la subjectivité. Paris: CERF, 2005, p. 327-328).

  1. SuZ, p. 22. Nós sublinhamos[↩]
  2. SuZ, p. 22. Nous soulignons.[↩]
Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

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