Caron (2005:316-317) – começo radical do pensamento heideggeriano

destaque

“É apenas se a compreensão do ser é que o ser se torna acessível como ser” [SZ:212]. Este é, pois, o início radical que o pensamento heideggeriano conquista através do contato com as possibilidades impensadas da fenomenologia: é através do ser que temos acesso ao enquanto (Als-Struktur) ou ao ser-presente da coisa, é através do ser que é possível uma Wesensschau que nos dê o objeto intencional, é através do ser que temos acesso a nós mesmos: pois “se a alma não tivesse desde o início uma compreensão do que significa ser, o homem, enquanto ente se reportando ao ente e também a ele mesmo, não estaria em estado de existir” [GA34:114]. O homem aparece como um ente; no entanto, ele é o único ente para quem há ente, isto é, para quem há ente que lhe aparece como tal, na nudez do seu ato de ser, no despojamento brutal de sua presença. E é este elemento que manifesta a especificidade de seu si mesmo. “O homem é manifestamente um ente. Como tal, assim como a pedra, a árvore, a águia, ele tem o seu lugar no todo do ser. Aqui, “ter o seu lugar” significa: estar integrado no ordenamento do ser. Ora, o traço distintivo do homem é que, na sua qualidade de ser pensante, ele é/está aberto ao ser, colocado diante dele, enquanto permanece reportado ao ser e que assim com ele co-rresponde. O homem é propriamente esta relação de correspondência, e senão isso. “Senão isso”: estas palavras não indicam uma restrição, mas antes uma superabundância” [GA11:Identität und Differenz, p. 18]. A realidade humana distingue-se do reino do ente bruto por esta relação impensada, mas determinante, ao ser: antes de ter pensado a mínima coisa, o homem relacionou-se com a pura presença desta coisa, logo com o seu ser no sentido infinitivo do verbo.

Original

  1. SuZ, p. 212 : « nur wenn Seinsverständnis ist, wird Seiendes als Seiendes zugänglich ».[↩]
  2. GA34, p. 1 14 ; EV, p. 136.[↩]
  3. IuD, p. 18 ; Q I et II, p. 264-265. (Cf. également GA79, p 121.)[↩]
  4. GA24, p. 28; PFP,p. 31.[↩]
  5. Ibid.[↩]
  6. Hölderlin, Der Rhein.[↩]
Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

Designed with WordPress