Caputo (MEHT:156-159) – homem em Heidegger e Eckhart

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O próprio Heidegger estabelece assim o primeiro ponto de comparação para nós (de seu pensamento e aquele de Mestre Eckhart). Ele, tal como Meister Eckhart, encontra no homem algo mais profundo do que o seu comércio quotidiano com as coisas que o rodeiam. Este ser primordial do homem é designado por Heidegger e Eckhart como o “Wesen” do homem. Tal como para Eckhart, também para Heidegger, Wesen tem um sentido verbal. Eckhart traduzia habitualmente o latim “esse” pelo alto alemão médio wesen (empregava frequentemente wesenheit e wesunge como traduções de essentia) (cf. Q, “Anrnerkungen”, 538). Este termo significa para ele o “ser essencial”, o “ser primordial” de uma coisa, aquilo pelo qual uma coisa é o que é. Heidegger retoma este sentido original da palavra e usa-a para se referir ao próprio Ser de um ser.

Ora, em ambos os casos, o próprio ser do homem, que nada tem de antropomórfico, reside na sua relação com algo que, à falta de melhor palavra, dizemos que “transcende” o homem. O ser essencial do homem não se encontra na sua relação com os seres, mas na sua relação com aquilo que transcende os seres, isto é, com o Ser. Assim, para Eckhart, a essência da alma é o fundamento da alma, que é intemporal, sem nome e incriado. Este solo é um “lugar” no qual Deus e a alma se unem, no qual o ser transcendente de Deus se realiza no homem. O “verdadeiro homem” é o homem que “deixa Deus ser Deus”, que proporciona uma morada que pode abrigar e preservar o nascimento do Filho. Também em Heidegger, o ser essencial do homem assenta em algo mais radical do que o homem: “a questão do ser essencial (Wesen) do homem não é uma questão sobre o homem” (GA13 Gelassenheit. 2. Auflage. Pfullingen: Verlag Günther Neske, 1960, 31/58). Pois o grande ser do homem deve ser uma relação com o próprio Ser para proporcionar um “lugar” (Ortschaft, HB, 77/204; Stelle, WM, 13/213) no qual o próprio Ser possa acontecer. O grande ser do homem é fornecer um abrigo e uma preservação para o ser da verdade.

original

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

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