Boutot (1987:157-158) – summum bonum (agathon)

tradução

A ideia do Bem deu origem a numerosas exegeses por parte dos comentadores. Assim, “na era cristã”, diz-nos Heidegger, “o ἀγαθόν de Platão foi interpretado no sentido do summum bonum, ou seja, como Deus criador”. Esta assimilação do ἀγαθόν platônico ao Deus dos cristãos é, de fato, bastante abusiva, e por uma razão essencial. Pois, para além do fato de se desenrolar numa dimensão de pensamento inteiramente desconhecida dos gregos, ignora deliberadamente o estatuto fundamentalmente eidético do Bem em Platão. “Platão”, diz Heidegger, “fala de ίδέα τοῦ ἀγαθοῦ, ele pensa o ἀγαθόν como ἰδέα…. Isso é pensado em sentido grego — e é contra isto que falham todas as sutilezas da exegese teológica ou pseudoteológica”. O ἀγαθόν em Platão é uma ideia, e é precisamente contra esta dimensão ideal fundamental do ἀγαθόν platónico que esbarram todas as interpretações que o tentam assimilar ao Deus cristão, por exemplo. (157) É esta idealidade, pelo contrário, que a exegese não deve perder de vista.

original

[BOUTOT, Alain. Heidegger et Platon. Le problème du nihilisme. Paris: PUF, 1987]

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

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