Boutot (1987:155-157) – o Bem (agathon)

tradução

Se quisermos compreender o significado de idea tou agathon em Platão, temos, antes de mais nada, de evitar interpretar agathon com a ajuda de determinações estranhas ao pensamento grego e completamente desconhecidas para ele. Normalmente traduzimos tò agathon por “o Bem”, e com isso queremos dizer o “Bem moral”, aquilo que está de acordo com a regra e a lei moral. “Uma tal concepção”, diz-nos Heidegger, “afasta-nos do pensamento grego”. Esta é, de fato, uma interpretação de origem e inspiração cristã que não alcança e distorce completamente o que a palavra agathon diz em grego. A ideia do Bem nada tem a ver, em Platão, com a “bondade” tomada no sentido moral. Em termos mais gerais, mesmo que Platão faça dela uma “ideia”, o Bem não pode ser considerado nele como um “valor”. De fato, não pode haver “valor” em sentido estrito, isto é, no sentido moderno da palavra, até à era da subjetividade. (…) Em todos estes exemplos, o qualificativo agathos não tem conotação “moral”, mas é aplicado em virtude de uma determinada “excelência”, aptidão ou disposição. Aqui, ser bom significa ser adequado ou apto para algo. É sempre uma “bondade” que se exerce em relação a um determinado domínio da experiência, e não uma bondade absoluta ou uma bondade “em si”. É em relação a este entendimento grego comum da palavra agathos que a idea tou agathon, a Ideia do Bem de Platão, deve ser entendida e interpretada, segundo Heidegger.

original

[BOUTOT, Alain. Heidegger et Platon. Le problème du nihilisme. Paris: PUF, 1987]

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

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