Bornheim (1989) – O Existencialismo de Sartre (Marxismo)

(Bornheim1989)

Na sua primeira fase, Sartre fala em ontologia e pretende dar conta da condição humana como tal; a partir dos anos 60 prefere a palavra antropologia, publica a Crítica da razão dialética e pergunta pela condição humana tal como ela se manifesta hoje. A grande virada concentra-se toda na descoberta da história, entendida através dos contornos bem definidos do marxismo. A análise dos fatos cede o seu lugar à interpretação dos acontecimentos.

De um lado, Sartre faz o elogio do marxismo: trata-se de uma filosofia jovem, que corresponde às exigências de nossos tempos por conseguir equacionar os problemas que ainda precisam de solução. Mas de outro alo, Sartre procede a uma crítica do marxismo e faz graves censuras aos caminhos percorridos pelas ideias de Marx em sua evolução histórica. É que, frequentemente, o marxismo marginaliza e esquece o sentido da existência humana, o valor insubstituível do indivíduo e da liberdade transformando a doutrina num princípio de terror. No fundo, o que Sartre faz é retomar e ampliar a sua velha doutrina da má fé, que passa gora por qualquer coisa como um processo de socialização. O ateu Sartre continua ferrenho inimigo de qualquer forma de materialismo: sempre que se interpreta a história a partir da categoria do objeto, através por exemplo, de leis econômicas, a subjetividade humana é abandonada, o homem é desfigurado. E contra esse perigo sempre iminente, faz-se necessário que se coloque na base da doutrina, como sua única razão de ser, o indivíduo concreto, a subjetividade individual, livre e consciente. Por aí, existencialismo e marxismo convergiriam na configuração de um novo humanismo.

 

 

Desde que ele (Merleau-Ponty) aprendera a história, eu já não era o seu igual. Continuava a questionar os fatos, quando ele já tentava fazer falar os acontecimentos. Os fatos se repetem.

(Situações IV, pág. 206)

 

Ele foi meu guia; Humanismo e terror é que me fez dar o salto. Este pequeno livro tão denso mostrou-me o método e o objeto: deu-me a sacudida necessária para arrancar-me de meu imobilismo.

(Situações, pág. 215)

 

E são estas duas idéias – difíceis, reconheço: o homem é livre – o homem é o ser pelo qual o homem se torna objeto – que definem o nosso estatuto presente e permitem compreender a opressão.

(Situações, pág. 109)

 

Nossa liberdade hoje não é nada mais que a livre escolha de lutar para nos tornarmos livres. E o aspecto paradoxal desta fórmula exprime simplesmente o paradoxo de nossa condição histórica. Não se trata de enjaular meus contemporâneos: eles já estão na jaula.

(Situações, pág. 110)

 

Há uma história humana, com uma verdade e uma inteligibilidade.

(Crítica da razão dialética, pág. 10)

 

[Há uma] totalização perpetuamente em curso como História e como Verdade histórica.

(Crítica da razão dialética, pág. 10)

 

[O Marxismo] permanece a filosofia de nosso tempo (…) as circunstâncias que o geraram ainda não foram vencidas.

(Crítica da razão dialética, pág. 29)

 

O marxismo parou: precisamente porque esta filosofia quer muar o mundo, porque ela visa o tornar-se mundo da filosofia, porque ela é e quer ser prática, operou-se nela uma verdadeira cisão que lançou a teoria de um lado e a práxis do outro.

(Crítica da razão dialética, pág. 25)

 

O método se identifica ao Terror por sua recusa inflexível de diferençar.

(Crítica da razão dialética, pág. 40)

 

Nós censuramos ao marxismo contemporâneo o relegar ao azar todas as determinações concretas da vida humana (…) O resultado é que ele perdeu inteiramente o sentido do que seja um homem: ele não dispõe, para preencher as suas lacunas, senão da absurda psicologia de Pavlov.

(Crítica da razão dialética, pág. 109)

 

O marxismo degenerará em uma antropologia inumana se não reintegrar em si o próprio homem como seu fundamento.

 

(Crítica da razão dialética, pág. 109)

 

No momento em que a pesquisa marxista assumira  dimensão humana (isto é, o projeto existencial) como o fundamento do Saber antropológico, o existencialismo não terá mais razão de ser: absorvido, excedido e conservado pelo movimento totalizante da filosofia, ele cessará de ser uma pesquisa particular para tornar-se o fundamento de toda pesquisa.

(Crítica da razão dialética, pág. 111)

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

Designed with WordPress