Bornheim (1989) – O Existencialismo de Sartre (Liberdade)

(Bornheim1989)

O tema da liberdade é o núcleo central do pensamento sartriano e como que resume toda a sua doutrina. Sua tese é insólita: a liberdade é absoluta ou não existe. Sartre recusa todo determinismo e mesmo qualquer forma de condicionamento. Assim, ele recusa Deus e inverte a tese de Lutero; para este, a liberdade não existe justamente porque Deus tudo sabe e tudo prevê. Mas como deus não existe, a liberdade é absoluta. E recusa também o determinismo materialista: se tudo se reduzisse à matéria, não haveria consciência e não haveria liberdade. Qual ´[e, então, o fundamento da liberdade? É o nada, o indeterminismo absoluto. Agora entende-se melhor a má fé: a tendência a ser termina sendo a negação da liberdade. Se o fundamento da consciência é o nada, nenhum ser consegue ser princípio de explicação do comportamento humano. Não há nenhum tipo de essência – divina, biológica, psicológica ou social – que anteceda e possa justificar o ato livre. É o próprio ato que tudo justifica. Por exemplo: de certo modo, eu escolho inclusive o meu nascimento. Por que? Se eu me explicasse a partir de meu nascimento, de uma certa constituição psicossomática, eu seria apenas uma sucessão de objetos. Mas o homem não é objeto, ele é sujeito. Isso significa que, aqui e agora, a cada instante, é a minha consciência que está “escolhendo”, para mim, aquilo que meu nascimento foi. O modo como sou meu nascimento é eternamente mediado pela consciência, ou seja, pelo nada. A falsificação da liberdade, ou a má fé, reside precisamente na invenção dos determinismos de toda espécie, que põem no lugar do nada o ser.

 

Somos separados das coisas por nada, apenas por nossa liberdade; é ela que faz que haja coisas com toda sua indiferença, sua imprevisibilidade e sua adversidade, e que nós sejamos inelutavelmente separados delas, pois é sobre um fundo de nadificação que elas aparecem e que se revelam como ligadas umas às outras.

(o ser e o nada, pág. 591)

 

A natureza do passado é dada ao passado pela escolha origina de um futuro.

(O ser e o nada, pág. 578)

 

A única força do passado lhe advém do futuro.

(O ser e o nada, pág. 580)

 

A liberdade que é minha liberdade permanece total e infinita.

(O ser e o nada, pág. 632)

 

Em certo sentido, eu escolho ter nascido.

(O ser e o nada, pág. 641)

 

Eu sou responsável por tudo, salvo por minha própria responsabilidade, porque eu não sou o fundamento de meu ser.

(o ser e o nada, pág. 641)

 

A liberdade é o único fundamento dos valores e nada, absolutamente nada, me justifica ao adotar tal ou tal valor, tal ou tal escala de valores. Enquanto ser pelo qual os valores existem eu sou injustificável. E minha liberdade se angustia de ser o fundamento sem fundamento dos valores.

(O ser e o nada, pág. 76)

 

O homem é apenas seu projeto, só existe na medida em que se realiza, ele é tão-somente o conjunto de seus atos.

(O existencialismo é um humanismo, pág. 55)

 

Todo homem se refugia na desculpa de suas paixões, todo homem que inventa um determinismo é um homem de má fé.

(O existencialismo é um humanismo, pág. 81)

 

Nossa responsabilidade é muito maior do que poderíamos supor, porque ela engaja a humanidade inteira.

(O existencialismo é um humanismo, pág. 26)

 

Sou responsável por mim mesmo e por todos, e crio uma certa imagem do home que eu escolho: escolhendo a mim, escolho o homem.

(O existencialismo é um humanismo, pág. 27)

 

Cada vez que o homem escolhe seu compromisso e seu projeto com toda sinceridade e com toda lucidez, torna-se-lhe impossível preferir um outro.

(O existencialismo é um humanismo, pág. 79)

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

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