Bégout (2020:Intro) – Stimmung

tradução parcial

Diremos então que a existência humana, qualquer que seja a sua definição, desde o nascimento até à morte, se desenrola sempre em situações afetivas? Sem dúvida. Porque não se trata, em primeiro lugar, de uma visão teórica ou de uma circunspecção prática, dessas maneiras de nos situarmos em relação ao que está diante de nós; trata-se de uma vibração puramente sensível que nos acompanha por toda a parte. O indivíduo não se relaciona espontaneamente com o que o rodeia por curiosidade ou utilidade; está já imbuído de uma impressão de conjunto. Por seu lado, o ser que se apresenta não é um objeto ou um instrumento. Não existe mais como uma substância dotada de qualidades do que como um possível instrumento de ação. Acima de tudo, é atrativo, repulsivo, intrigante. É um objeto de valor, um objeto de estilo, um objeto de expressão. Por exemplo, o sol que nos ilumina e aquece não aparece imediatamente como uma fonte de luz ou de calor, mas antes como algo cuja aparição no céu nos encanta. O ser-no-mundo abre-se originariamente numa dada expressão afetiva. É apenas o enfraquecimento progressivo dessa presença que, em circunstâncias que teremos de explicar, liberta o campo da perceptibilidade e permite o aparecimento de seres simples. Daí resulta que o mundo não se revela a nós de um ponto de vista teórico ou prático. Revela-se no seio desta ressonância. Porque o que sentimos primeiro não são coisas com qualidades objetivas, mas, à nossa volta, tons, ares, excitações vagas que nos atraem ou repelem.

original

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

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