(…) Daí o projeto de Heidegger: retornar a algo mais fundamental, por meio da elucidação desse “algo” que está na base do que chamamos de “filosofia”. Fornecer o estímulo necessário para o despertar de uma problemática, ou seja, daquilo que é possível elevar à dignidade de uma pergunta relativa ao que é dito (fragwürdig no sentido forte), uma pergunta, precisamente, que nunca foi feita. Cf. O que é filosofia?: “Depois de dois milênios e meio, finalmente chegou a hora de ponderar o seguinte problema: o que o ser do ente pode ter a ver com algo como ‘princípio’ e ‘causa’? (GA11)
Observação: por que Heidegger coloca dois problemas: 1) O que é filosofia? 2) O que é metafísica? Por que a primeira pergunta não leva à questão da verdade do ser? A filosofia é o certo, a própria tradição filosófica. A metafísica é o provável. Em sua Carta sobre o Humanismo (GA9), Heidegger faz uma distinção paralela entre das Gleiche (o semelhante, o parecido) e das Selbe (o mesmo), que é muito mais profunda. O que é, para Nietzsche, um eterno retorno do parecido, torna-se, para Heidegger, um perpétuo advento do mesmo. A filosofia seria, então, aquilo que vai do parecido ao mesmo. Daí a pergunta: o que é o mesmo?
Mas as preocupações com a história podem distorcer a leitura do texto de Heidegger, assim que fazemos a pergunta: para onde a filosofia está indo? De fato, a filosofia está intimamente condicionada por essa outra pergunta: de onde ela vem?