Barbuy: realismo, idealismo, materialismo

De todos os problemas da filosofia, aquele que constitui o ponto capital, por onde se definem os sistemas e divergem as escolas é o problema do ser. Uma filosofia se apoia tanto mais sobre o senso natural, sobre a experiência quotidiana e sobre os primeiros princípios da Inteligência, quanto mais se orienta para uma ontologia realista. E se afasta tanto mais do senso natural e dos princípios da Inteligência quanto mais se encaminha para o subjetivismo idealista e para o materialismo, duas atitudes no fundo correlatas, que traduzem igualmente uma negação do ser substancial ou da faculdade que tem a inteligência de penetrá-lo na sua objetividade essencial.

Em linhas gerais, três diversas atitudes diante do problema do ser produzem respectivamente o realismo, o idealismo e o materialismo. Estas três atitudes respectivamente teocêntrica, antropocêntrica e materialista se caracterizam: o realismo pela afirmação dos seres e do Ser, seja sob a forma do realismo natural ou do realismo crítico 1; o fundo comum de todo realismo é o reconhecimento da existência de cousas reais independentes da consciência do sujeito do conhecimento. — O idealismo pela negação ou a problematização do ser substancial, seja sob a forma do idealismo psicológico, para o qual a realidade não existe fora da consciência do sujeito; seja sob a forma do idealismo lógico, para o qual a realidade é um produto do pensamento, um sistema de juízos, não existindo fora da consciência geral do conhecimento; o fundo comum de todo idealismo é considerar o objeto do conhecimento como ideal e não como real e o seu ponto de partida está na subordinação do ser ao conhecer e da realidade às formas a priori da razão. O materialismo, a seu turno envolve a negação pura e simples do ser subsistente como realidade ou mesmo como problema: considera a filosofia superada pela ciência e afirma o relativo com a negação do absoluto e os acidentes com a negação da substância. Como é evidente, toda ontologia não realista, todo idealismo e todo materialismo, vêm desde sua origem falseados pela afirmação implícita do ser que negam, desde que não se pode pensar sem pensar o ser e desde que não se pode afirmar um ou outro dos aspectos da realidade, sem afirmar essa realidade como subsistente em si mesma — como ser e como existência.

Historicamente, estas três atitudes representam e acompanham o gradual declínio do homem religioso para o homem político e deste para o homem econômico. Mas isto não significa que as atitudes da filosofia tenham uma explicação histórica, porque o fundamento da filosofia são os primeiros princípios da Inteligência, não susceptíveis de transformações históricas, pelo que se vê que a ciência progride sempre, mas a filosofia gira sempre em torno dos mesmos problemas.

Os problemas da filosofia têm uma natureza permanente porque são problemas cujo centro está precisamente no que É e o desenvolvimento da filosofia se processa no sentido da profundidade e não no sentido da horizontalidade, como as técnicas e as ciências. Não há um “progresso” da filosofia por substituição, mas sim um aprofundamento dos mesmos problemas. Assim uma doutrina fundada na realidade ôntica e nos princípios primeiros da Inteligência, será sempre a mesma filosofia e o seu desenvolvimento não será um progresso por substituição, mas um crescimento do interior para o exterior, como num processo de assimilação gerado por uma série de perspectivas sempre novas da mesma realidade: augere non addere. Incorporando o vir-a-ser no ser, a filosofia terá que explicar o próprio progresso técnico-científico, o progresso por substituição, revelando a interior unidade da variedade e a permanência do que É no fluxo do que vai se tornando. Assim a filosofia pode explicar o progresso das ciências, mas as ciências não podem explicar o desenvolvimento da filosofia.

Caso contrário, os problemas da filosofia poderiam ter alguma suposta explicação histórico-sociológica, as teorias seriam expressões de classes dominantes ou dominadas (Marx); haveria moral de senhores e moral de escravos (Nietzsche); explicar-se-ia paradoxalmente Sócrates pela sua origem plebleia e Platão pela sua ascendência aristocrática; dir-se-ia que o idealismo é uma filosofia burguesa; o intuicionismo bergsoniano a expressão do desespero de uma ordem social em vias de ruína, e o materialismo histórico a filosofia natural da classe operária. Interpretações essas, totalmente absurdas, totalmente insubsistentes e dignas unicamente de espíritos perturbados pela sociologia de Durkheim e o positivismo de Comte. Em primeiro lugar a mesma sociologia atual rejeita essas falsas interpretações com as leis da capilaridade social e da circulação das elites, com a análise da estrutura da sociedade, enquanto por outro lado se sabe hoje claramente que a interpretação econômica da história se funda numa crassa ignorância dos fatos históricos e do verdadeiro papel (negativo e não positivo) dos fatores econômicos e geográficos na história. E em segundo lugar porque tais interpretações grosseiras do pensamento filosófico confundem a essência da filosofia, com a ossatura das suas manifestações históricas, e partem de uma esquematização, de uma “racionalização” da realidade, que pretende reduzir a experiência humana à menor e menos significativa de suas partes, qual seja, a experiência sensível, que não tem nenhum sentido fora dos primeiros princípios do Ser e da inteligência. Essas interpretações “científicas”, peculiares aos dias fúteis que estão acabando de correr, longe de explicar, em tudo falsificam as verdades do espírito, fazendo da realidade concreta um mito matemático, do homem que pensa, quer e sente, um animal puramente econômico e da existência dos seres e do Ser uma pura invenção social, explicável sociologicamente (Durkheim).

A extrema degradação a que chegou a filosofia com o positivismo, o materialismo, o sociologismo e todos os filosofismos correlatos, combatendo as verdades da consciência natural pela utopia das fórmulas físico-químicas, gerou toda a angústia contemporânea, cujo único remédio consiste precisamente em sair do círculo vicioso de um pensamento que nega verbalmente o ser com os seus princípios e depois reduz o ser aos acidentes e os princípios da inteligência aos princípios da matemática para completar a falsificação do mundo e da vida. A solução deve consistir na restauração da filosofia autêntica do ser, fundada na experiência quotidiana, esclarecida pelos princípios imutáveis da inteligência, os quais nos conduzem à essência do ser, princípios esses que se nutrem da experiência sensível, da experiência volitiva que intui a existência do ser, da experiência emotiva que intui o valor do ser e da vida. A restauração da filosofia do ser não é outra cousa senão o retorno ao senso natural, a abolição do esforço contra-naturam do pensamento moderno com suas raízes cartesianas e do pensamento contemporâneo com suas raízes kantianas.

No entanto, esta restauração teria parecido geralmente impossível, enquanto se acreditasse na infalibilidade dos métodos matemáticos do conhecimento científico, com a sua visão físico-química e homogênea da realidade. Mas depois da revisão do valor filosófico da ciência contemporânea, pela crítica principalmente de Boutroux e Bergson, havendo caído o castelo de cartas sobre o qual se apoiava todo positivismo e todo materialismo, juntamente com o sociologismo e o fenomenismo evolucionista, o caminho que se abre, não é o de uma nova contradictio in adiecto, qual por exemplo a do “existencialismo” que toma por necessária uma existência contingente. O caminho que se abre é o de um retorno, não à filosofia do passado, (porque a filosofia verdadeira ou é perene ou não é filosofia) e sim um retorno à filosofia da consciência natural, esclarecida pelos princípios da inteligência, apoiada pela tríplice intuição intelectiva, volitiva e emotiva do mundo e da vida: aquela filosofia em suma, que não pretende forjar e sim descobrir a verdade, reabilitando a razão contra o racionalismo e levando a intuição intelectiva da realidade até suas últimas consequências, sem se confinar ao matematismo, no qual redundou toda visão racionalista da realidade.

Toda a obra de Bergson, que parece dirigida contra a inteligência, em verdade não o é senão contra as formas matemático-quantitativas do saber científico, contra a ciência contemporânea, a qual, depois de haver falsificado a realidade do mundo exterior, pretendeu ainda aplicar suas “leis” à “análise” da vida interior, reduzindo a uma só e horizontal homogeneidade toda a complexa heterogeneidade dos seres e do Ser, do mundo e da vida. Delinear novamente uma filosofia dos seres e do Ser, não é, nem pode ser outra cousa, senão retomar os pontos fundamentais do que se chamou o pensamento escolástico e isto simplesmente porque esta é uma doutrina que se apoia sobre a experiência real e integral da vida, a experiência do Ser e do Existir; e quem quisesse abolir os fundamentos da doutrina escolástica e reconstruir novamente uma filosofia fundada na consciência natural e nos primeiros princípios da Inteligência, nada mais faria do que reconstruir essa mesma filosofia escolástica, que não é a teoria inventada por este ou aquele filósofo, por força desta ou daquela circunstância histórico-social, e sim, a doutrina descoberta pelo pensamento filosófico na realidade objetiva do mundo, do homem e de Deus. E pelo fato de que essa realidade é uma só, desde que a sua experiência seja esclarecida pelos princípios da intuição intelectual, a sua formulação em termos filosóficos há de ser um conjunto de conclusões harmônicas e intemporais. Isto porque, os princípios da filosofia são universais e não peculiares, na sua essência, a esta ou aquela cultura, como acreditava Spengler.

Se os conceitos fossem apenas produtos de uma cultura apolínea ou de uma cultura fáustica e não tivessem o seu apoio na realidade objetiva das cousas, repousando apenas na subjetividade da consciência geral, então poderia haver uma filosofia apolínea e uma filosofia fáustica, sendo a metafísica engendrada pela consciência de cada cultura e não pela descoberta, segundo os princípios universais da inteligência, da realidade objetiva e das suas essências. No entanto, abstraídas as considerações secundárias, (os modos peculiares que tem cada cultura de reagir diante dos fatos histórico-sociais), ninguém poderá negar que os princípios intelectuais sejam os mesmos em todas as culturas, que tenham atingido um grau de desenvolvimento compatível com o pensamento filosófico. Nunca houve cultura alguma que pudesse afirmar, fosse em que língua fosse, que a parte é maior do que o todo. Por mais diversas que sejam as culturas, todas terão que concordar com os mesmos princípios da inteligência e nenhuma poderá discordar de que: Uma cousa não pode ser e não ser ao mesmo tempo, sob o mesmo aspecto e na mesma relação. Não há meio termo entre o ser e o não-ser. Duas cousas iguais a uma terceira são iguais entre si. Nada existe que não tenha uma razão suficiente.

Assim, os princípios da inteligência são imutáveis e os mesmos em todas as culturas. O que varia nas culturas é exatamente a formulação da sua perspectiva sentimental da vida e do mundo, quando essa perspectiva não se orienta para a metafísica realista, fundada nos princípios da inteligência. De onde, toda a metafísica da história em Spengler, a despeito da impressionante riqueza de observações de suas obras, sofre do erro fundamental de não reconhecer a universalidade dos princípios da inteligência, que formulam a metafísica do ser, adequando-se à realidade.

A diferença que há entre o realismo e as demais sistematizações da metafísica é constituída primacialmente pelo fato de que o realismo descobre e os demais sistemas forjam a realidade. Forjam filosoficamente a realidade e depois a forjam também cientificamente, substituindo os mitos das primitivas religiões pelos mitos das fórmulas científico-matemáticas que são, uns e outros, tomados em si mesmos, apenas mitos, símbolos que a princípio querem apenas traduzir e depois querem também constituir a realidade, o ser. Sob este aspecto, tão válida é, para traduzir atitudes diante da vida, a mitologia pré-lógica, como as fórmulas das ciências contemporâneas; e ainda, os símbolos míticos encerram realidades concretas, enquanto os símbolos científicos encerram apenas abstrações. O abstracionismo racionalista (que em tudo se distingue da abstração, qual a entendiam os clássicos) esse abstracionismo é que caracteriza a atitude do homem contemporâneo perante o mundo e a vida, enquanto um largo subjetivismo caracteriza a sua atitude filosófica; isto até o momento em que a filosofia, erigida numa negação de si mesmo (positivismo) procura sair do subjetivismo caindo numa pseudo-objetividade, a qual explica paradoxalmente o sujeito que conhece pelo objeto conhecido, assim como o idealismo supunha explicar o objeto conhecido pelo sujeito que conhece. Eliminada a existência da realidade exterior pelo idealismo, anulada a correlação entre o sujeito e o objeto do conhecimento, o materialismo nasce necessariamente da corrupção do idealismo, pela simples inversão das proposições.

Kant, com o apriorismo das formas da razão, declarou que trazia uma revolução copernicana ao mundo, fazendo o objeto do conhecimento girar em torno do sujeito e não o sujeito em torno do objeto. A simples inversão desta atitude kantiana gerou o positivismo e formas subalternas do materialismo, que negam a autonomia do sujeito cognoscente, considerando-o um fenômeno qualquer da natureza, um ponto de cruzamento de leis químicas, físicas, biológicas e sociológicas; explicar o homem, previamente esvaziado de toda interioridade, seria o mesmo que descobrir essas inúmeras leis, das quais ele não é mais do que um ponto de convergência. Por isso, a sociologia, tal como a via Comte, “a mais complexa de todas as ciências”, pretendeu durante o século XIX, quando não pretende ainda, substituir a filosofia. Esta tendência da sociologia sobrevive atualmente num esforço supremo de resistência contra os novos rumos que tomou esta ciência, rumos que farão com que a sociologia se oriente de modo cada vez mais nítido para um sentido cultural. Mas Augusto Comte, com a “lei dos três estados”, não menos famosa do que falsa, pretenderia que a restauração da ontologia, da metafísica, seria o regresso a uma fase pretérita do desenvolvimento humano. O positivismo é uma teoria eminentemente “progressista”, que vê linearmente o desenvolvimento histórico, que acredita no aperfeiçoamento indefinido da espécie humana, e para os positivistas a metafísica não é senão um produto da falta de ciência, quando, em verdade, o positivismo é que é um produto da falta de filosofia.

Para a indigência positivista, um fato só seria explicado filosoficamente, enquanto não o fosse cientificamente. Aos positivistas, nunca foi possível admitir duas ordens de explicações, uma fenomênica e outra ontológica, porque uma explicação ontológica seria sempre uma explicação em termos de realidade substancial e o positivismo nega pura e simplesmente o ser. Negado o ser sobram apenas os fenômenos que a ciência deve explicar e explicará porque o seu “progresso” é indefinido, desde que, no positivismo não se pode pensar em termos de progresso limitado, não se admite a essência para a existência, nem a potência para o ato. Por isso nada interessa mais ao positivismo do que as objeções que lhe foram dirigidas por Husserl e Max Scheler. Este último observa particularmente que as possibilidades do desenvolvimento têm um limite e chegam ao seu fim 2. — Não há um progresso indefinido, mas ao contrário, se há um progresso, esse é bem definido, limita-se por todas as partes. O que significa que o ato está em relação com a potência e a essência com a existência.

De fato, o positivismo, querendo tudo explicar pelos conhecimentos científicos, positivos, começa acreditando nas leis científicas abstraídas de fenômenos que se repetem, e depois pretende estender o domínio dessas leis e por meio delas explicar a constante violação da repetição pelo progresso, o qual é a quebra permanente da repetição, porque se houvesse repetição não haveria progresso. Assim, as leis científicas não podem explicar o progresso e quando querem explicá-lo incorrem naquele absurdo tão bem indicado por Bergson e segundo o qual a ciência, com seu modelo físico-matemático, pretende reconstruir o todo com o fragmento das partes, explicar a evolução pelo evoluído e o vivo pelo inerte.

Por outro lado, não só a ontologia realista não poderá ser nunca invalidada pela ciência, porque a ciência atinge os fenômenos e não o ser substancial, como também, as mesmas explicações científicas, longe de restringir, dilatam o campo da filosofia em seus vários ramos extra-ontológicos. O papel da filosofia não é, como se pensou largamente, cobrir as lacunas não ainda preenchidas pela ciência. Porque, quanto mais a ciência resolver os seus problemas, os quais sempre resultam de problemas anteriores, novos problemas surgirão, porque os problemas científicos surgem numa progressão geométrica, à medida em que são resolvidos. E muitas vezes, quando a ciência pretende substituir a filosofia, como sucede com a Física Teórica, a ciência se torna uma nova falsa filosofia, afastando-se completamente da realidade, como se afastam as fórmulas da Física Teórica, que pretendem reduzir a existência concreta a um símbolo abstrato. E por outro lado, se a vida fosse uma reação físico-química, se pudesse subordinar-se ao determinismo das leis da causalidade, então talvez a ciência pudesse algum dia explicar a vida, porque então o seu comportamento seria em tudo semelhante ao da matéria inorganizada e morta; e a vida não seria vida, mas morte.

E o conhecimento científico-matemático, longe de esgotar em ato a potência das faculdades cognitivas, não é senão uma das formas em que se exprime a inteligência, quando endereçada para a consideração das propriedades físicas do ser, voltando toda a atenção para os acidentes quantitativos da substância. E ademais, se o mundo objetivo, do qual as ciências particulares extraem os seus conceitos, é dado — segundo a observação de Bergson — pelo sólido inorganizado; se o evolucionismo, o positivismo e o materialismo entendem que a inteligência não é uma faculdade do espírito, mas apenas um produto histórico das funções orgânicas, gerado pela evolução e se essa evolução é uma experiência sobre o sólido inorganizado — como poderão fugir essas teorias à conclusão bergsoniana de que a inteligência é apenas um instrumento de ação e não de especulação? De onde, todo aquele que adota as teorias positivistas, evolucionistas e materialistas tem como única, irremediável solução, o irracionalismo bergsoniano, que é, realmente, o produto final, a conclusão inevitável e depurada de todo pensamento evolucionista. E se a inteligência, ou antes, o matematismo, conhece unicamente o mundo da extensão, da quantidade, do sólido inorganizado, de que modo poderá ter a pretensão de aplicar suas “leis” científicas ao mundo organizado e vivo? — Esta última pretensão, absurda do ponto de vista do realismo ontológico, pareceu entretanto muito natural, em larga escala, ao pensamento contemporâneo, desde que esse pensamento começou pela negação verbal do ser substancial (porque de jato essa negação é impossível) e viu no mundo real apenas uma série de fenômenos, O fenomenismo, frequentemente acusado em Berkeley, Renouvier, Stuart Mill, Taine, Schopenhauer e outros, na verdade está implícito em toda a filosofia contemporânea, a partir de Kant; e toda a ciência contemporânea, estendendo ao mundo do inextenso as leis matemáticas deduzidas da experiência sobre o extenso, se apoia igualmente no fenomenismo absoluto, implícito, ou declarado. Este fenomenismo, que resulta da visão horizontal da realidade convertida em puro vir-a-ser, com a exclusão teórica do ser substancial, é bem típico do século passado, quando a extraordinária floração das ciências particulares e seus resultados práticos, relegaram ao plano do esquecimento a aplicação dos primeiros princípios da faculdade de inteligir a realidade.

Não é, como pensava Spencer, que uma linha imaginária divide o campo das ciências do campo da filosofia e da religião, abrangendo as ciências o mundo cognoscível e a filosofia com a religião o incognoscível. Se assim fosse, a existência do pensar filosófico demonstraria a fraqueza e não o vigor da inteligência humana. A metafísica seria a prova da ignorância e não da sabedoria. Mas, em verdade, Spencer pensava em termos de realidade homogênea e linear, quando a realidade é heterogênea e não pode sem a metafísica ser penetrada na sua substancialidade. E se há uma ilusão e uma ignorância, esta é mais a ilusão e a ignorância da ciência, do que da metafísica.

  1. Gredt opõe o realismo natural (que não é o realismo ingênuo) ao idealismo e ao realismo critico. Realismus naturalis integralis est doctrina secundum quam immediate cognoscimus obiecta transsubiectiva prout in se sunt etiam secundum qualitates immediate sensibiles. Realismus igitur naturalis opponitur tum idealismo tum realismo critico (illationismo) tum doctrinae corum qui negant obicctivitatem formalem qualitatum sensibüium (interpretationismo). Realismus naturalis a quibusdam vocatur perceptionismus, quem opponunt conceptionismo, quo nomine complectuntur tum idealismum tum realismum criticum. — “Elementa Philosophiae Aristotelico-Thomisticae”, art. 695 E. Quinta, e também “De Cognitione Sensuum Externorum” (Unsere Aussenwelt) Innsbruck, 1921, Roma 1924.[]
  2. Wesen und Formen der Sympathie[]