Barbaras (1991:31-33) – cogito e ser-no-mundo

(Barbaras1991)

destaque

É com a ajuda da noção de cogito tácito que Merleau-Ponty tenta, na terceira parte da Fenomenologia da Percepção, apreender o verdadeiro sentido do ser-no-mundo. Contra a redução intelectualista do mundo a um puro objeto, Merleau-Ponty tenta trazer à luz a figura irredutível do percebido: o fato originário é que “alguma coisa se mostra, há um fenômeno”, o que significa que “há uma certeza absoluta do mundo em geral, mas não (32) de qualquer coisa em particular” (Ph.P. p. 344). Mas a Fenomenologia da Percepção não nos permite pensar esta situação no próprio nível em que ela se estabelece. “Há fenômeno” é imediatamente traduzido por “há consciência de algo” (Ph.P. p. 342): longe de esta certeza ser reenquadrada a partir daquilo de que é certa, a saber, o próprio mundo, ela é imediatamente explicitada como certeza de si mesma. A subordinação desta certeza a um cogito é tomada como um dado adquirido, quando na verdade ela é, antes de mais, uma posição do próprio mundo. Este primado do cogito corresponde a uma determinação inadequada da noção de mundo. O mundo não é explicitado em si mesmo, como unidade originária e irredutível do ser e do aparecer, como identidade de um “mostrar-se” e do ser que se mostra: ele é implicitamente entendido como uma realidade em si mesma, e uma consciência torna-se então necessária para portar a fenomenalidade.

original

[BARBARAS, Renaud. De l’être du phénomène. Grenoble: Jérôme Millon, 1991]

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

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