Barbaras (1991:273-276) – o invisível

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O propósito de Merleau-Ponty é pôr em evidência uma articulação original e, em última análise, uma quase-identidade do visível e do invisível. O invisível não é o outro de um visível concebido como inerentemente positivo, mas aquilo que, para preservar a sua distância, o seu poder significante, se torna visível; o visível, por sua vez, não é a negação do invisível, mas o elemento da sua manifestação e, neste sentido, um modo primitivo de idealidade. O visível é, de fato, a “apresentação (274) de um não apresentável”: na medida em que manifesta uma unidade tácita, uma “coesão sem conceito”, é já “exploração de um invisível” e, como a própria ciência, “desvelamento de um universo de ideias” (V. I. p. 196). E, como salienta Merleau-Ponty, “uma vez entrado neste estranho domínio, não se vê como se possa pensar em sair dele” (V.I. p. 199). O dom sensível da ideia, que só aparece “velada na escuridão”, parece ser a própria lei de todas as ideias e, em última análise, a própria lei da mente: “aquilo a que chamamos mente é inseparável daquilo que (os homens) têm de precário, e a luz nada iluminaria se não houvesse nada que não lhe servisse de tela” (C. F. p. 27). Devemos, portanto, reconhecer a universalidade do sensível, a universalidade da carne: como diz Merleau-Ponty, “não há um mundo inteligível, há um mundo sensível” (V. I. p. 267). Mas não devemos interpretar mal o sentido deste “há”, e devemos compreender que o sensível não repousa em si mesmo, que é sinônimo de fenomenalização, isto é, exposição na obscuridade de um universo de ideias, apresentação do invisível: o sensível é o que há por todos os lados, o que suporta toda a experiência e toda a produção de sentido.

original

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

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