Barbaras (1991:25-26) – corpo próprio

(Barbaras1991)

destaque

Assim, antes de mais, a experiência do corpo próprio, que revela uma abertura irredutível do sujeito ao mundo, um enraizamento da consciência que não poderia ser enraizamento para a consciência, dá lugar a dois tipos de formulação. Por um lado, o corpo é colocado em primeiro plano e a sua descrição permite sublinhar a irredutibilidade da experiência à dualidade sujeito e objeto, fato e sentido: o corpo “tem o seu mundo ou compreende o seu mundo sem ter de passar por representações”, ele “é a potência de um certo mundo”, de modo que, finalmente, “o corpo é um eu natural e como o sujeito da percepção” (Ph.P. p. 164,124, 239). Aqui, sob o nome de corpo, parece anunciar-se um novo conceito de experiência, que dispensa o recurso à noção de consciência, ou melhor, que fornece uma outra definição do sujeito. Mas, por outro lado, este “poder”, este “ter” do mundo, não é pensado até ao fim, pelo que Merleau-Ponty regressa a uma concepção realista, concepção essa implicada pelo seu recurso à psicologia, que apreende o corpo sempre num movimento de objetivação. O corpo é então implicitamente abordado de acordo com a dualidade do orgânico e do psíquico. Ele torna-se “o mediador do mundo”, mediador de uma consciência que não é mais do que “o ser da coisa por intermédio do corpo” (Ph.P. p. 169,161).

original

[BARBARAS, Renaud. De l’être du phénomène. Grenoble: Jérôme Millon, 1991]

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

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