Barbaras (1991:176-179) – o visível

destaque

[…] Que significação conceder a este primado da visão? É certo que “o nosso mundo é principalmente e essencialmente visual; não se faria um mundo com perfumes ou sons”; no entanto, esta preeminência não se limita a esta constatação factual. Refere-se sobretudo ao fato de ser apenas através da visão que temos acesso ao mundo enquanto mundo. Como diz Merleau-Ponty em L’œil et l’esprit: “Le ’quale visuel’ me donne et me donne seul la présence de ce qui n’est pas moi, de ce qui est simplement et pleinement”. Na audição ou no tato, o objeto não atinge esta exterioridade, esta autonomia: no tato, que implica um contato físico, a coisa é experimentada mais “na ponta dos dedos” do que fora da pessoa que a sente, e eu ouço o som “no ouvido” em vez de o localizar no espaço. Em ambos os casos, o corpo perceptivo é reenviado para si próprio, incapaz de se esquecer de si mesmo em favor de uma pura exterioridade: o sentido é então difícil de distinguir do teste que o corpo sensitivo faz a si próprio a cada vez. Há, por outro lado, “mais mundo” na visão, porque o corpo que sente não se dá como separado do sentir, como repousando nele mesmo.

original

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

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