Auxenfants: Verständnis

nossa tradução

Eis que aparece um termo fundamental. Para a inteligência do texto, é importante limitá-lo agora. O próprio Heidegger se expressou (em particular no § 31) sobre o significado específico que atribui a essa palavra (Verständnis) na maioria dos casos em que ela aparece em Sein und Zeit, a saber, a de uma compreensão do ser (Seinsverständnis), ou melhor, uma pré-compreensão, sempre já presente e inerente à essência do Dasein. Em todos esses casos, o termo “compreensão” não tem uso epistemológico, nem pertence a nenhuma teoria do conhecimento; não designa uma certa modalidade de inteligência ou explicação, mas designa o que torna possível todas as modalidades de entendimento. Em outras palavras, como veremos, a compreensão é um “poder-e-saber-fazer”, uma projeção. Nesse contexto, não está fora de lugar citar Françoise Dastur (FD2, página 148): “Porque é por essa inclusão na natureza que o coloca no meio dos entes e o dedica fundamentalmente a eles que o Dasein pode ‘compreender’ (verstehen), ou seja, fazê-los se levantar e trazê-los para a estança (ver-stehen), tomá-los por verdadeiros (wahr-nehmen), percebê-los como tais e assim deixá-los ser o que são, o que implica que o horizonte de seu possível encontro sempre foi projetado. E comentar em nota 5 da mesma página o verbo composto (ver-stehen): “Verstehen deriva de stehen e, portanto, pertence a uma área semântica diferente daquela do “entendimento” francês ou da inteligência latina. O próprio Heidegger coloca esse termo em relação ao episteme grego, cujo primeiro significado é o de permanecer e habitar (istemi) próximo (epi) do ente”.

De maneira geral, e terei a oportunidade de repeti-lo, a análise que Heidegger conduz de maneira transcendental (no sentido kantiano do termo), aquela das condições de possibilidade, continuamente se depara com a questão que está inevitavelmente subjacente: Qual é a condição de possibilidade disto que a análise toma como condição de possibilidade? Neste nível, e a observação é obviamente muito esquemática, surge que toda a abordagem de Heidegger parece ser habitada pela obsessão da remontada de um degrau a montante das ditas “clássicas” condições de possibilidade. O que, afinal, se mascara à toda experiência? Em outras palavras, o que está subjacente é o que mais tarde se tornará o recolhimento do ser, enquanto radicalização do transcendentalismo kantiano. E o que faz Heidegger senão remontar um degrau submetendo o transcendental kantiano à experiência fenomenológica? O primeiro exemplo é dado aqui com sua visão da compreensão (a qual quer se situar, em fundando-as, a montante da intuição e do entendimento kantiano – cf. parágrafo 15 do § 31 (art38), página (147) ); a segunda virá, na segunda seção, com a temporalidade, uma experiência fenomenológica, agostiniana, do tempo. Para não falar do resto de sua obra, a qual não fará senão perseguir implacavelmente a mesma remontada.

Original

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

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