artesanal

O adjetivo artesanal indica o modo da ars (-tis), próprio do artesão, no seu agir e criar obra. Esse modo de ser, no entanto, era a manifestação do que constituía o modo de ser e de se interpretar do homem medieval, na realização da sua humanidade, como gênese, crescimento e estruturação de um mundo, sob o toque de uma determinada possibilidade de ser. Tal abertura da possibilidade de ser se chama existência. Assim, o artesanal no medieval não é, propriamente, apenas atributo e qualificação de uma pessoa ou de grupo de pessoas, mas sim o modo de ser, que uma vez subsumido pelo sentido do ser denominado filiação divina se tornou o característico próprio do ser medieval.

Essa existência artesanal subsumida pelo sentido do ser da filiação divina nos pode levar a crer que todo o pensamento medieval é unilateralmente teológico. Essa constatação é correta. Mas não no sentido de absolutização do teológico, entendido como um ponto de vista parcial, ao lado de outros pontos de vista. O teológico do medieval é antes uma pré-compreensão ontológica, isto é, o sentido do ser da existência medieval, o uni-verso da realização da realidade a priori, toda própria, cuja lógica do seu ser somente se torna acessível e necessária se nos colocarmos no ponto de salto, a partir e dentro do qual se dá a aberta (aqui, na significação de clareira, abertura; nesga do céu que as nuvens, abrindo-se por um instante, deixam ver, e através da qual vislumbramos a imensidão do céu aberto) da eclosão e manifestação do mundo medieval. Neste sentido, a criação como filiação divina é algo como condição da possibilidade de ser, agir, e sentir; portanto, é o ser do ser-no-mundo medieval, e não ponto de vista, um aspecto parcial. [Giachini]