(BA1987)
A direção e a perspectiva em que uma análise temporal do domínio da poesia teria de se encaminhar nos são indicadas de forma alusiva pelas observações de Heidegger sobre uma máxima de Rivarol1. Esta máxima fala do tecelão que tece seu tecido, mas invertendo de maneira notável a concepção comum do “fluxo do tempo”. Essa inversão é encontrada em outras máximas do mesmo autor. Rivarol diz: “O movimento entre dois repousos é a imagem do presente entre o passado e o futuro. O tecelão que faz sua tela sempre faz o que não é”. Rivarol concebe, portanto, o passado e o futuro como estando em repouso. Não é o tempo que se move (“flui”), mas nós, enquanto agentes no presente (o tecelão), que realizamos um movimento de vai e vem entre o passado e o futuro. No entanto, observa Heidegger, essa concepção do tempo não vai além do horizonte aristotélico da compreensão do tempo a partir do movimento. Por outro lado, é preciso notar a estranha formulação de Rivarol: “O tecelão… sempre faz o que não é”, o que equivale a dizer que sua [281] ocupação, ao fabricar a tela, é o não-ser. A pro-dução em si (no sentido amplo de ποίησις) não é, no sentido do ser presente, mas aparece sob a forma de um vai e vem “entre dois repousos”, que são as dimensões da proveniência e do futuro. Observemos que, assim, Rivarol abre de certa forma uma perspectiva sobre o problema do ritmo poético, que não pode ser concebido adequadamente nem como estático (no sentido comum de um ser que subsiste), nem como dinâmico (a partir do princípio da mobilidade). O vai e vem, que é “a imagem do presente”, aponta para o combate entre o desvelamento e o retraimento do ser, no qual a obra de arte aparece e resplandece com sua presença superior.
Em: Ernst Jünger, Rivarol, Frankfurt-s.-M., 1956, 196-98.