a ex-sistência é o mundo do sentido (Sheehan, 2018, 44)

tradução

2. A EX-SISTÊNCIA É O MUNDO DO SENTIDO

2.1 A ex-sistência é transcendente, lançada à frente como o campo do significado possível — aquilo a que Heidegger chamou o Aberto, a clareira, o mundo social e linguístico doador de significado, o nada, o Urphänomen (GA 14: 81.13), e por vezes Seyn.

2.2 Enquanto Aberto, a ex-sistência é ἀλήθεια-primal ou λόγος-primal, o domínio da inteligibilidade possível a que SZ chamou Rede (SZ 349.32). Esta estrutura existencial torna-nos existencialmente capazes de

2.2.1 “desvendar as coisas”, ou seja, dar sentido a elas (ἀλήθεια-2 ou λόγος-2); e

2.2.2 “desvendá-las corretamente”, ou seja, fazer afirmações verdadeiras sobre elas (ἀλήθεια-3 ou λόγος-3).

2.3 O termo técnico “ser-no-mundo” pode ser interpretado erroneamente como significando que a ex-sistência está meramente “no” espaço e tempo “dentro” do universo material. Mas para Heidegger, “no” indica familiaridade com, e “mundo” denota significado (SZ 87.19-20). Enquanto ex-sistentes, estamos estruturalmente familiarizados com o significado enquanto tal (Bedeutsamkeit), bem como com uma gama de possíveis significados (Bedeutungen) que se podem aplicar ao que encontramos.

2.4 Para Heidegger, o significado surge em conjuntos, isto é, em contextos ou “mundos” (SZ 65.5-6, 68.24-25) que são (1) existencialmente possibilitados pela abertura da existência, (2) existenciariamente moldados pelos interesses (45) e preocupações de cada um que, por sua vez, (3) moldam existenciariamente os significados das coisas dentro desse contexto. Por exemplo, dependendo do contexto, uma pedra pode tornar-se num prático peso-de-papéis, numa marreta alternativa ou numa arma letal.

2.5 Os mundos de sentido de uma pessoa passam geralmente despercebidos, mas podem tornar-se temáticos quando um objetivo é frustrado ou uma ferramenta se avaria, e podem ser tornados temáticos através da reflexão, por exemplo, numa redução fenomenológica.

2.6 Uma vez que a ex-sistência é o mundo-do-sentido (SZ 364.34; GA9: 154.18-19) e uma vez que o mundo-do-sentido é o Aberto (GA 9: 326.15-16), não há necessidade de uma “relação” que atravessaria um “fosso” entre a ex-sistência, por um lado, e o Aberto, por outro. A chamada “relação” é o próprio Aberto; e a ex-sistência é essa mesma “relação”.

Der Bezug ist jedoch nicht zwischen das Seyn und den Menschen eingespannt …. Der Bezug ist das Seyn selbst, und das Menschenwesen ist der selbe Bezug. (GA73.1: 790.5-8)

original

[Thomas Sheehan, “But What Comes Before the “After”?”, in FRIED, G.; POLT, R. (eds.). After Heidegger? London ; New York: Rowman & Littlefield International, 2018]

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

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