LDMH: Faktizität

O termo Faktizität, em alemão, é uma espécie de corpo estranho; não aparece no imponente Dicionário alemão dos irmãos Grimm. E no entanto, Heidegger não hesita em recorrer a ele para denominar um fenômeno que habita o coração de toda existência, a saber que viver — no sentido especial de: viver como modalidade própria de ser para o “ente que é cada vez cada um de nós” — viver, portanto, demanda que nós o “façamos”. Viver, para nós outros seres humanos, significa: “factividade”. Assim como Faktizität não está no Grimm, “factivité” (trad. de Vezin) não se encontra no Littré.

A factividade não é outra senão a face da condição humana ela mesma, quando ela aparece em seu duplo esquartejamento: entre, por um lado, o que é a fazer e o que não deve ser feito, e por outro lado entre o que deveria ser feito e o que é efetivamente feito.

Factividade e não “facticidade”; pois o que é feito pode ser frequentemente apresentar um caráter factício (ou ditro de outro modo artificial e finalmente falso), o sentido no qual se desdobra a condição humana não de ser factício. A factividade, muito pelo contrário, designa uma das possibilidades mais altas da existência humana, aquela de aí se entender a “fazer ser” — facio é certamente em latim a versão do grego tithemi. Factivamente, somos sem cessar em fazendo algo, mesmo se que seja, a maioria das vezes, “nem feito nem a fazer”. A verdadeira relação da factividade à facticidade é que a factividade é propriamente o que a facticidade não alcança jamais senão a ser de maneira imprópria. Em realidade, portanto, a factividade compreende a facticidade, e não inverso. (p. 477-478)