Wisser: Foram motivos muito distintos que levaram as tentativas modernas a resultar, no plano social ou no das relações entre os indivíduos, na reorientação das finalidades e na “reestruturação” dos domínios de fato, Evidentemente, muita filosofia está em jogo aqui, para o bem e para o mal.
O Sr. percebe uma missão social para a filosofia?
Heidegger: Não! —Nesse sentido não se pode falar de uma missão social.
Se se quer responder a esta questão, deve-se de inicio perguntar “o que é a sociedade?” e refletir sobre o fato de que a sociedade de hoje é apenas a absolutização da subjetividade moderna e que, a partir daí, uma filosofia que ultrapassou o ponto de vista da subjetividade não tem, de todo, o direito de exprimir-se no mesmo tom.
Quanto a saber até que ponto pode-se verdadeiramente falar de uma transformação da sociedade, é outra questão. A questão da exigência da transformação do mundo nos leva a uma sentença muito citada das Teses sobre Feuerbach de Marx. Eu gostaria de citá-la exatamente e, por isso, vou lê-la: “Os filósofos somente interpretaram o mundo de maneiras diferentes; trata-se de transformá-lo.”
Citando essa sentença e aplicando-a, perde-se de vista que uma transformação do mundo pressupõe uma mudança da representação do mundo e que uma representação do mundo só pode ser obtida por meio de uma interpretação suficiente do mundo. Isso significa que Marx fundamenta-se em uma interpretação bem determinada do mundo para exigir sua “transformação” e isso mostra que essa sentença é uma sentença não-fundamentada. Ela dá a impressão de ser pronunciada resolutamente contra a filosofia, ao passo que na segunda parte da sentença a exigência de uma filosofia está mesmo, tacitamente, pressuposta. (trad. Antonio Abranches)