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Beiträge zur Philosophie [GA65]

GA65 (Casanova) – linguagem (Sprache)

Referências a "linguagem"

domingo 17 de setembro de 2023, por Cardoso de Castro

LINGUAGEM, quer falada quer silenciada, a primeira e a mais ampla antropomorfização do ente. Assim o parece. Mas ela precisamente é a desantropologização mais originária do homem como ser vivo presente à vista e “sujeito” e como tudo até aqui. E, com isso, fundação do ser-aí e da possibilidade de desantropologização do ente. [tr. Casanova  ; GA65  : 281]

Cortam de nós a palavra; não como uma ocorrência ocasional, junto à qual não teria lugar um discurso e um enunciado realizável e onde apenas o enunciar e o redizer o que já foi dito e o que é dizível não são levados a termo, mas originariamente. A palavra não ganha ainda de modo algum a palavra, por mais que ela chegue ao primeiro salto por meio de tal corte. O que corta a palavra é o acontecimento apropriador enquanto aceno e acometimento do seer. O fato de se cortar a palavra é a condição inicial para a possibilidade que se desdobra de uma denominação originária – poética – do seer. LINGUAGEM e a grande tranquilidade, a proximidade simples da essência e a distância clara do ente, quando a palavra atua uma vez mais pela primeira vez. Quando chegará esse tempo? A retenção: o suportar criador no a-bismo. [tr. Casanova  ; GA65  : 13]

[O repensar do seer e a LINGUAGEM] Com a LINGUAGEM habitual, que hoje é cada vez mais amplamente abusada e desgastada, a verdade do seer não tem como ser dita. Será que essa verdade pode ser em geral dita de maneira imediata, uma vez que toda LINGUAGEM é de qualquer modo LINGUAGEM do ente? Ou será que pode ser inventada uma nova LINGUAGEM para o seer? Não. E mesmo se tal tentativa tivesse êxito e mesmo sem uma formação vernácula artificial, essa LINGUAGEM não seria nenhuma LINGUAGEM que diz. Todo dizer precisa emergir concomitantemente do poder ouvir. Os dois precisam ter a mesma origem. Assim, só uma coisa importa: dizer a LINGUAGEM mais nobremente amadurecida em sua simplicidade e força essencial, a LINGUAGEM do ente enquanto LINGUAGEM do seer. Essa transformação da LINGUAGEM penetra em âmbitos que ainda se encontram cerrados para nós, porque não sabemos a verdade do seer. Assim, fala-se da “recusa do perseguimento”, da “clareira do encobrimento”, do “acontecimento apropriador”, do “ser-aí”, não um escolher verdades e retirar essas verdades das palavras, mas a abertura da verdade do seer em tal dizer transformado. [tr. Casanova; GA65: 36]

Nós nunca podemos dizer de maneira imediata o próprio seer, precisamente se ele é ressaltado no salto. Pois todo dizer vem do seer e fala a partir de sua verdade. Toda palavra e, com isso, toda lógica se encontra sob o poder do seer. A essência da “lógica” é, portanto, a sigética. Nela se concebe também pela primeira vez a essência da LINGUAGEM. Mas “sigética” é apenas um título para aqueles que ainda pensam em “disciplinas” e só acreditam ter um saber quando o dito é inserido na ordem de tais disciplinas. [tr. Casanova; GA65: 37]

O silenciamento, porém, não é de maneira alguma uma a-lógica, algo que se mostra com maior razão como lógica e gostaria de ser como a lógica, só que não consegue. Algo contra o que a vontade e o saber do silenciamento estão dirigidos de uma maneira totalmente diversa. E também não se trata muito menos do “irracional” e de “símbolos” e “cifras”: tudo isso pressupõe a metafísica até aqui. Muito ao contrário, o silenciamento inclui a lógica da entidade, assim como a questão fundamental transforma em si a questão diretriz. O silenciamento emerge da origem essenciante da própria LINGUAGEM. [tr. Casanova; GA65: 38]

Nietzsche  , concebido como o fim da metafísica ocidental, não aponta para nenhuma constatação historiológica daquilo que se encontra atrás de nós, mas se mostra como o ponto de partida histórico do futuro do pensar ocidental. A questão acerca do ente precisa ser trazida para o seu fundamento próprio, para a questão acerca da verdade do seer. E o que constituiu até aqui o fio condutor e a formação do horizonte de toda interpretação do ente, o pensar (re-presentar), é retomado na fundação da verdade do seer, no ser-aí. A “lógica” enquanto doutrina do pensar correto transforma-se em meditação sobre a essência da LINGUAGEM como a denominação instituidora da verdade do seer. O seer, contudo, até aqui, sob a figura da entidade, o que havia de mais universal e corrente, se torna enquanto acontecimento apropriador o que há de mais único e estranho. [tr. Casanova; GA65: 89]

Pertencente sempre e a cada vez a cada um deles, afinado em meio ao inesperado, essa não enumeração dos deuses está longe de se mostrar como a arbitrariedade do que deixa tudo vigorar. Pois essa não enumeração é já a consequência de um ser-aí mais originário: de sua reunião no revolvimento da recusa, a essenciação do seer. Dito na LINGUAGEM que sobreviveu da metafísica, isso significa: a recusa como essenciação do ser é a mais elevada realidade efetiva do mais elevado possível enquanto possível e, com isso, é a primeira necessidade. Ser-aí é fundação da verdade dessa abertura maximamente simples do fosso abissal. [tr. Casanova; GA65: 169]

Na aletheia  , des-velamento, se experimenta: o ser velado e a superação e afastamento parcial e caso a caso da própria aletheia. Mas já isso, o fato de, com o afastamento (retirada: a-privativo), justamente o aberto precisar se es-senciar, é algo que se encontra imerso em todo desvelado, não é expressamente algo perseguido e fundado. Ou será que precisamos refletir aqui sobre a ideia da luz e da claridade em sua relação com o desencobrimento como uma apreensão e uma “visão”? Com certeza (cf interpretação da alegoria da caverna). De maneira alegórica, algo é indicado aqui; e mesmo o aceno precedente para a ânfora é alegórico. Será que não conseguimos de maneira alguma ir além do alegórico? Não e sim. Pois, inversamente, a mais sensível LINGUAGEM e formação nunca são apenas “sensíveis”, mas são em primeiro lugar compreendidas e não apenas “também compreendidas em acréscimo”. [tr. Casanova; GA65: 214]

Verdade, aletheia, quase não ressoando aí, poderosa, com efeito, mas infundada e mesmo não propriamente fundante. A correção leva a psyche   a alcançar o primado, assim como acontece com a relação sujeito-objeto. Como o domínio da correção já tem a sua longa história, é só muito lenta e dificilmente que a sua origem e a possibilidade de algo diverso são visualizadas. Com a psyche também se dá originariamente o logos   como reunião e, em seguida, como discurso e como saga. O fato de o enunciado se tornar o lugar para a “verdade” é concomitantemente o que há de mais estranho em sua história, apesar de isso ser considerado por nós como corrente. Por isto, porém, abstraindo-se da concepção da própria essenciação, a verdade e o verdadeiro precisam continuar sendo buscados e conservados lá onde não supomos de modo algum que eles estariam. Este desenraizamento da verdade é acompanhado pelo velamento da essência do seer. Em que medida a “correção” é essencial a partir da instituição e do abrigo (LINGUAGEM)? [tr. Casanova; GA65: 231]

A viragem se essencia entre o clamor (ao pertinente) e a escuta (do conclamado). Viragem é contra-viragem. O clamor ao salto no acontecimento da apropriação é a grande tranquilidade do conhecer-se mais velado. É a partir daqui que toda LINGUAGEM do ser-aí toma a sua origem e está, por isso, na essência o silêncio (cf retenção, acontecimento apropriador, verdade e LINGUAGEM). [tr. Casanova; GA65: 255]

O pensar. O visar do ser. O ser e a diferenciação em relação ao ente. O projeto do seer. O re-pensar do seer. A essenciação do seer. A história. O ser-aí. A LINGUAGEM e a saga. O “ente”. A questão transitória (por que é em geral o ente e não antes o nada?) A história do seer. O ponto de vista da história do seer. O incalculável. [tr. Casanova; GA65: 257]

Projeto: que o homem já se jogue do ente, sem que esse já estivesse aberto como tal, em direção ao seer. Todavia, tudo resta obscuro aqui. Será que o homem é, afinal, um homem aprisionado? No (ente) com certeza e isso porque ele se comporta ao mesmo tempo em relação ao “ser” (por exemplo, a LINGUAGEM), porque essa ligação com o seer em geral é o fundamento de uma relação em um comportamento de uma postura. [tr. Casanova; GA65: 263]

A unicidade do seer, na transição da metafísica, para a qual ele é considerado como o que há de mais universal e corrente, chegará à essenciação em uma estranheza e obscuridade correspondentemente únicas. No pensar transitório, tudo aquilo que pertence à história do ser traz consigo o elemento inabitual do singular e conjuntural. O re-pensar do seer alcança, por isso, onde e quando ele acontece de maneira exitosa, uma rigidez e uma agudeza da historicidade, para a qual ainda falta a LINGUAGEM ao dizer, isto é, o poder denominar e ouvir que satisfaça a ele, ao seer. [tr. Casanova; GA65: 265]

O pensar no outro início não conhece a explicação do ser por meio do ente e não sabe nada sobre o condicionamento do ente por meio do seer; condicionamento esse que sempre também coisifica o seer junto ao ente, a fim de emprestar-lhe, então, de qualquer modo uma vez mais, sob a forma do “ideal  ” e dos “valores” (agathon   é o começo), uma elevação. Com certeza, então, segundo a forma e de acordo com um longo hábito de representação através da metafísica e apoiado pela LINGUAGEM cunhada a partir dela e pela sua fixação significativa, todo e qualquer discurso acerca do seer pode ser mal interpretado em meio à relação corrente da condição para o condicionado. Não temos como ir ao encontro imediatamente desse perigo; sim, ele precisa ser assumido como um dote da metafísica, cuja história, então, não pode ser afastada, se no projeto originário do seer a essência da história entra pela primeira vez em jogo. [tr. Casanova; GA65: 268]

Caso a denominação do intuível conseguisse prestar aqui algum auxílio, seria preciso dizer do fogo que seu próprio forno se queima em um primeiro momento na dureza reunida de um sítio de sua chama, cuja labareda crescente se consome na claridade de sua luz e deixa arder aí o escuro de sua brasa, a fim de proteger como um fogareiro o meio do entre, que se torna para os deuses a morada indesejada, mas de qualquer modo necessária, assim como se torna para o homem o espaço livre da conservação daquilo que, de maneira terrena-mundana, preservando o verdadeiro, surge e perece nessa liberdade enquanto o ente. Somente se aquilo que o homem enquanto homem histórico denomina subsequentemente como ente se quebra junto ao seer, seer esse que é a urgência do deus, é que todo ente é retrojetado para o peso da essência que lhe cabe e, assim, chega a algo nomeável da LINGUAGEM e pertencente ao silenciamento, no qual o seer se subtrai a todo cálculo sob o ente e, não obstante, dissipa sua essência na fundação abissal da intimidade de deuses e mundo, de terra e homem. [tr. Casanova; GA65: 270]

1) A LINGUAGEM como enunciado e como dito. 2) O dizer do seer. 3) O seer e a origem da LINGUAGEM. A LINGUAGEM é a ressonância que pertence ao acontecimento apropriador, ressonância essa na qual ele se doa como contestação da contenda em meio a essa contenda mesma (terra – mundo) (a consequência: o desgaste e o mero uso da LINGUAGEM). 4) A LINGUAGEM e o homem. Será que a LINGUAGEM é dada com o homem ou será que é com o homem que a LINGUAGEM é dada? Ou será que uma coisa não se torna e não é por meio da outra de modo algum duas coisas diversas? E por quê? Porque os dois pertencem de maneira cooriginária ao seer. Por que o homem pertence “essencialmente” à determinação da essência da LINGUAGEM – o homem como? Guardião da verdade do seer. 5) O animal rationale   e a falsa interpretação da LINGUAGEM. 6) LINGUAGEM e lógica. 7) A LINGUAGEM, a entidade e o ente. [tr. Casanova; GA65: 276]

No interior da história da metafísica (e, com isso, na filosofia até aqui em geral), a determinação da LINGUAGEM é derivada do logos, por mais que o logos seja tomado como enunciado e esse enunciado como ligação entre representações. A LINGUAGEM assume o enunciar do ente. Ao mesmo tempo, a LINGUAGEM, uma vez mais como logos, é atribuída ao homem (zoon   logon echon). As ligações fundamentais da LINGUAGEM, a partir das quais sua “essência” e “origem” são deduzidas, confluem para o ente enquanto tal e para o homem. [tr. Casanova; GA65: 276]

Sempre de acordo com a interpretação do animal rationale e sempre de acordo com a concepção do nexo da ratio (da palavra) com o ente e o maximamente ente (deus) ocorrem modulações da “filosofia da LINGUAGEM”. Mesmo lá, onde essa designação não é usada expressamente, a LINGUAGEM alcança como um objeto presente à vista (instrumento – construto capaz de assumir configurações e dom do criador) o âmbito da consideração filosófica ao lado de outros objetos (arte, natureza etc.). Por mais certamente que se possa admitir que esse construto especial acompanha de qualquer modo uma vez mais toda representação e, com isso, se estende sobre todo o âmbito do ente como um modo de sua expressão, a consideração não ultrapassa com isso aquela determinação inicial da LINGUAGEM, por meio da qual ela permanece colocada em uma ligação bastante indeterminada com o ente e com o homem. Quase não se procura conceber a partir dessa ligação com a LINGUAGEM e com vistas a ela a essência do homem e sua relação com o ente, apreendendo-a inversamente de maneira mais originária. Pois isso já exigiria estabelecer a LINGUAGEM por assim dizer de um modo livre de ligações. Em que direção, porém, ela deve ser fundada, uma vez que um ser-presente-à-vista da LINGUAGEM contraria evidentemente em si toda e qualquer experiência? [tr. Casanova; GA65: 276]

Se levarmos em consideração o fato de que “a” LINGUAGEM em geral nunca é, mas que a LINGUAGEM só pode ser como a-histórica (“LINGUAGEM” dos assim chamados povos naturais) e como histórica, então mensuraremos para além daí o quão obscura permanece para nós a essência da história, apesar da compreensibilidade da historiologia; então, todas as tentativas de apreender a “essência” da LINGUAGEM parecerão se confundir imediatamente no começo do caminho; e toda reunião historiológica de pontos de vista até aqui sobre a LINGUAGEM pode até ser instrutiva, mas ela nunca consegue nos lançar para além do campo de ligação metafisicamente fixado da LINGUAGEM com o homem e com o ente. Isso, porém, já se mostra de qualquer modo como a primeira questão: saber se, então, com a interpretação histórica e até mesmo inicialmente necessária da LINGUAGEM a partir do logos e com a inserção assim prelineada no campo de ligação metafísico, a possibilidade da determinação essencial da LINGUAGEM não teria sido restrita ao espaço de meditação da metafísica. Se, então, porém, a metafísica mesma e seu questionamento em sua restrição essencial à questão acerca da entidade são reconhecidos e se se consegue alcançar a intelecção de que, em meio a essa questão metafísica acerca do ente na totalidade, nem tudo e precisamente o mais essencial dentre tudo o que é ainda não pôde ser de modo algum interrogado, a saber, o seer mesmo e sua verdade, então se abre aqui uma outra perspectiva: o seer e nada menos do que a sua essenciação mais própria poderia até mesmo constituir aquele fundamento da LINGUAGEM, a partir do qual ela criou o caráter apropriado de determinar pela primeira vez por si mesma aquilo, em relação ao que ela é explicada metafisicamente. [tr. Casanova; GA65: 276]

A primeira questão efetiva, com a qual toda filosofia da LINGUAGEM enquanto tal (isto é, enquanto metafísica da LINGUAGEM e, consequentemente, enquanto psicologia da LINGUAGEM etc.) se torna imediatamente caduca, é a questão acerca da ligação da LINGUAGEM com o seer, uma questão que, naturalmente, sob essa forma, não toca naquilo que ela questiona. Essa ligação, porém, se deixa elucidar em uma via que ainda vislumbra ao mesmo tempo aquele âmbito, que sempre foi diretriz na consideração da LINGUAGEM até aqui. [tr. Casanova; GA65: 276]

Segundo a determinação bem compreendida e até hoje válida do homem como animal rationale, a LINGUAGEM é dada com o homem e isso de maneira tão certa que se pode dizer mesmo na inversão que é apenas com a LINGUAGEM que o homem é dado. LINGUAGEM e homem se determinam de modo alternante. Por meio do que isso se torna possível? As duas coisas são em certo aspecto o mesmo? E em que aspecto elas são o mesmo? Por força de seu pertencimento ao seer. O que significa isso: pertencer ao seer? O homem pertence enquanto um ente ao ente e está submetido, assim, à mais universal determinação de que ele é e de que ele é de tal e tal modo. A questão é que isso não distingue o homem enquanto homem, mas apenas o equipara enquanto ente a todo ente. O homem, porém, pode pertencer ao seer (não apenas ao ente), na medida em que ele cria a partir desse pertencimento e precisamente a partir dele a sua essência mais originária: o homem compreende o seer (cf Ser e tempo  ); ele é o guarda-posto do projeto do seer, a guarda da verdade do seer constitui isso a partir do seer e “apenas” a partir dessa essência concebida do homem. O homem pertence ao seer como aquele que é apropriado pelo próprio seer em meio ao acontecimento para a fundação de sua verdade. Assim apropriado, ele é entregue à responsabilidade do seer; ao mesmo tempo, tal responsabilidade remete a conservação e a fundação da essência do homem para aquilo que o homem precisa primeiro transformar para si em propriedade, aquilo com relação ao que ele precisa ser mais próprio e mais impróprio: para o ser-aí, o que significa a própria fundação da verdade, o a-bismo exposto e sustentado pelo seer (acontecimento apropriador). Como é, contudo, que a LINGUAGEM se comporta em relação ao seer? Se não podemos computar a LINGUAGEM como algo dado e, com isso, já estabelecido na essência, uma vez que o que importa é “encontrar” a essência, e se o seer mesmo é “mais essencial” do que a LINGUAGEM, na medida em que ela é tomada como um dado (ente), então a pergunta precisa ser formulada de outro modo. Como é que o seer se comporta em relação à LINGUAGEM? Mas mesmo assim a questão é ainda capaz de induzir em uma falsa interpretação, na medida em que aparece agora como mera inversão da relação anterior e a LINGUAGEM, por sua vez, é considerada como um dado, com o qual o seer entra em ligação. Como é que o seer se comporta em relação à LINGUAGEM – o que está em questão aqui é: como emerge na essenciação do seer a essência da LINGUAGEM? Com isso, porém, uma resposta já não é antecipada: justamente que a LINGUAGEM emerge do seer? Mas toda e qualquer autêntica questão acerca da essência, determinada como projeto a partir do que precisa ser projetado, antecipa a resposta. A essência da LINGUAGEM nunca pode ser determinada de outro modo senão por meio da denominação de sua origem. Por isso, não se pode fornecer definições da essência da LINGUAGEM e declarar a questão acerca de sua origem irrespondível. A questão acerca da origem encerra naturalmente em si a determinação essencial da origem e do próprio emergir. Emergir, contudo, significa: pertencer ao seer no sentido da questão por último colocada: como se essencia na essenciação do seer a LINGUAGEM? Que, contudo, essa ligação com o seer não seja em geral nenhuma exposição arbitrária, isso foi algo que a consideração prévia deixou claro. Pois, em verdade, aquela dupla ligação metafísica (só que não pensada de volta à origem) da LINGUAGEM com o ente enquanto tal e com o homem (como animal rationale, ratio – fio condutor da interpretação do ente com vistas à entidade, isto é, o ser) não indica outra coisa senão: a LINGUAGEM está inteiramente ligada ao ser; e isso precisamente nos aspectos, segundo os quais a metafísica a determina. Mas como a metafísica só é em geral a partir do impasse em relação ao seer o que ela é, precisamente essa ligação e completamente a sua concepção correta nunca pode alcançar o âmbito de seu questionamento. [tr. Casanova; GA65: 276]

A LINGUAGEM emerge do seer e pertence, por isso, a ele. Assim, tudo reside uma vez mais no projeto e no pensamento “do” seer. Mas agora precisamos pensar o seer de tal modo que nos lembremos aí ao mesmo tempo da LINGUAGEM. Mas como é que devemos agora conceber “a LINGUAGEM”, sem nos atermos antecipadamente à determinação da essência que precisa ser primeiro conquistada? Segundo tudo aquilo que foi insinuado, naturalmente de tal modo que a LINGUAGEM se torne experimentável em sua ligação com o seer. Como é, porém, que isso acontece? “A” LINGUAGEM é “nossa” LINGUAGEM; “nossa” não apenas como a LINGUAGEM materna, mas como a LINGUAGEM de nossa história. E, com isso, se abate sobre nós o que há de derradeiramente questionável da meditação sobre “a” LINGUAGEM. [tr. Casanova; GA65: 276]

Nossa história – não como o transcurso historiologicamente conhecido de nossos envios destinamentais e de nossas realizações, mas nós mesmos no instante de nossa ligação com o seer. Pela terceira vez caímos no abismo dessa ligação. E, dessa vez, não sabemos nenhuma resposta. Pois toda meditação sobre o seer e sobre a LINGUAGEM é apenas um impulso prévio, para tocarmos nosso “posto” no próprio seer e, com isso, nossa história. Mas mesmo se nós quisermos apreender nossa LINGUAGEM em sua ligação com o seer, o que há de mais corrente da determinação metafísica até aqui da LINGUAGEM se aferroa a esse questionamento, uma determinação da qual também não pode ser dito francamente que ela seria inteiramente não verdadeira; e isso sobretudo porque ela, porém, ainda que veladamente, tem em vista precisamente a LINGUAGEM em sua ligação com o seer (com o ente enquanto tal e com o homem que representa e pensa o ente). Bem próximo do caráter enunciativo da LINGUAGEM (enunciado considerado aqui no sentido mais amplo possível, no sentido de que a LINGUAGEM, o dito e o não dito, visa a, representa, configura ou encobre de maneira representacional algo (o ente) etc.) é a LINGUAGEM conhecida como posse e como instrumento do homem e como “obra” ao mesmo tempo. Esse nexo da LINGUAGEM com o homem, porém, é considerado como sendo tão íntimo que até mesmo as determinações fundamentais do próprio homem (como animal rationale por sua vez) são escolhidas para tanto, a fim de caracterizar a LINGUAGEM. A essência espiritual-corpóreo-anímica do homem é reencontrada na LINGUAGEM. O corpo (vernáculo) da palavra, a alma da LINGUAGEM (tonalidade afetiva, tom sentimental e coisas do gênero) e o espírito da LINGUAGEM (o representado-pensado) são determinações correntes de toda filosofia da LINGUAGEM. Essa interpretação da LINGUAGEM poderia ser denominada interpretação antropológica e ela tem seu ápice no fato de se ver na própria LINGUAGEM um símbolo da essência do homem. Se aqui a questionabilidade da ideia de símbolo (um filho autêntico do impasse em relação ao seer que vigora na metafísica) é recolocada, então o homem precisaria ser concebido de acordo com isso como aquele ser que tem sua essência em seu próprio símbolo ou na posse desse símbolo (logon echon). Permanece em aberto até que ponto essa interpretação simbólica – pensada metafisicamente até o fim – da LINGUAGEM pode ser levada no pensar da história do ser para além de si e até que ponto algo frutífero pode nascer daí. É inegável que, juntamente com aquilo que fornece na LINGUAGEM o Apolo para o fato de que ela pode ser concebida como símbolo do homem, se toca em algo que é de algum modo próprio à LINGUAGEM: o teor da palavra e a sua casca, a afinação da palavra e o significado da palavra, por mais que já pensemos uma vez mais no campo de visão dos aspectos que emergem da metafísica com vistas ao sensível, ao não sensível e ao suprassensível; e isso mesmo que não tenhamos em vista pela “palavra” as palavras particulares, mas o dizer e o silenciar do dito e não dito e esse não dito mesmo. A casca da palavra também pode ser reconduzida a elementos da constituição anatômico-fisiológica do corpo humano e explicada a partir daí (fonética – acústica). Algo desse gênero é a afinação da palavra e a melodia da palavra, assim como o acento sentimental do dizer é objeto da explicação psicológica e o significado da palavra é uma questão da decomposição lógico-poético-retórica. A dependência dessa explicação e decomposição da LINGUAGEM em relação à concepção do homem é patente. [tr. Casanova; GA65: 276]

Se, então, porém, com a superação da metafísica, a antropologia também cai por terra, se a essência do homem é determinada a partir do seer, então aquela explicação antropológica da LINGUAGEM não pode mais permanecer normativa; ela perde aí seu fundamento. Não obstante, agora permanece até mesmo em pleno   poder aquilo que foi captado como corpo, como alma, como espírito da LINGUAGEM junto a essa explicação. O que é isso? Pensando de maneira correspondente à história do ser, não podemos proceder agora simplesmente de um modo tal, que interpretemos a essência da LINGUAGEM a partir da determinação do homem em termos da história do ser? Não; pois sempre permanecemos com isso ainda presos na ideia de símbolo; antes de tudo, no entanto, não se estaria levando a sério assim a tarefa de ver a partir da essenciação do próprio seer a origem da LINGUAGEM. [tr. Casanova; GA65: 276]

Quando os deuses clamam pela terra e no clamor dos deuses ressoa um mundo, e quando, assim, o clamor ecoa como ser-aí do homem, então a LINGUAGEM se mostra como palavra histórica, como palavra formadora de história. [tr. Casanova; GA65: 281]

LINGUAGEM e acontecimento apropriador. Esclarecimento da terra, ressonância do mundo. Contenda, o abrigo originário da abertura de um fosso abissal, porque o rasgo mais íntimo. A posição aberta. [tr. Casanova; GA65: 281]

LINGUAGEM, quer falada quer silenciada, a primeira e a mais ampla antropomorfização do ente. Assim o parece. Mas ela precisamente é a desantropologização mais originária do homem como ser vivo presente à vista e “sujeito” e como tudo até aqui. E, com isso, fundação do ser-aí e da possibilidade de desantropologização do ente. [tr. Casanova; GA65: 281]

A LINGUAGEM se funda no silêncio. O silêncio é a mais velada retenção da medida. Ele mantém a medida, porquanto ele estabelece os critérios de medida. E, assim, a LINGUAGEM é estabelecimento de medidas no que há de mais íntimo e mais abrangente, estabelecimento de medidas como re-essenciação da junta fugidia e de sua junção (acontecimento apropriador). E uma vez que a LINGUAGEM é o fundamento do ser-aí, reside no ser-aí a comedida e, com efeito, como fundamento da contenda de mundo e terra. [tr. Casanova; GA65: 281]


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