O ente ao qual o homem se liga no seu quotidiano não é de modo nenhum um ente subsistente (Vorhanden) que seria percebido numa perspectiva teórica, mas primeiramente e antes de mais qualquer coisa que serve para, que é produzida para. O ser-aí tem a ver antes com os utensílios (Zeug), este termo deve ser tomado num sentido largo, o que os gregos já tinham, de uma certa maneira, compreendido bem, como testemunha a sua caraterização das coisas enquanto pragmata, quer dizer enquanto objetos de uma praxis. O utensílio não é uma realidade simplesmente subsistente, mas está fundamentalmente disponível para um uso determinado (Zuhanden). O utensílio é essencialmente alguma coisa de que dispomos para… Ele possui então a estrutura fundamental do envio. O utensílio envia sempre a alguma outra coisa (um outro utensílio, a obra que ele serve para fabricar, etc.), que envia, ela própria, para outra coisa, e assim sucessivamente. Em cada utensílio anuncia-se então uma multiplicidade de envios, e a totalidade destes envios é precisamente o que Heidegger chama o mundo. O mundo da preocupação quotidiana não é então a soma de todos os entes subsistentes, mas o horizonte significante sobre o fundo do qual o ser-aí preocupado encontra o ente com que tem de se haver. (1993, p. 33)