tradução
Colocarei em evidência em minha proposição as palavras de Aristóteles no início da Política: “o de bios praxis ou poiesis estin” (1254a). Estas palavras concernem a vida não no sentido da zoe mas no sentido do modo de ser ou de existir dos humanos (bios). Elas dizem: o modo de ser dos humanos não consiste em produzir mas em agir. Em grego, o verbo poiein e o substantivo poiesis designam uma atividade que trata das coisas preferivelmente que das pessoas, enquanto o verbo prattein e o substantivo praxis designam uma atividade que concerne a princípio os agentes eles mesmos.
Não faltam testemunhos para atestar que a distinção entre estas duas atividades desempenhou um papel decisivo na maneira pela qual os gregos da polis consideravam a excelência de seu modo de existir comparado ao modo de vida dos bárbaros. A seus olhos, os bárbaros se assinalavam por uma carência profunda em matéria de praxis. No pior dos casos, o modo de ser dos bárbaros, pouco importa que tenham vivido na penúria ou na abundância, não superava em nada a imersão pura e simples no eterno retorno da vida, e a submissão ao jugo da necessidade natural. No melhor dos casos, o modo de ser dos bárbaros podia alcançar notáveis sucessos na ordem da poiesis, na produção de todos os tipos de obras que não têm equivalente natural e no saber-fazer inerente a esta produção, mas, no entanto, jamais aos olhos dos gregos da Cidade, os bárbaros alcançavam a excelência da praxis, o eu prattein. Para os gregos da Cidade, esta excelência, este eu prattein residiam na atividade mesma do cidadão, no politeuein, atividade que não associa um vivente ao ciclo eterno da vida, que não associa também um artesão a todos aspectos do fazimento de sua obra, mas que associa indivíduos a outros indivíduos no compartilhamento das palavras e dos atos que concernem seu estar-junto, e no exercício de todas as virtudes que este compartilhamento supõe: temperança, coragem, justiça, prudência (phronesis). Assim confundida com o exercício mesmo da cidadania, a praxis está intimamente ligada à palavra, à lexis, à declaração e à discussão por indivíduos preocupados com este mundo comum, do que lhes aparece deste mundo, das iniciativas renovadas que sua manutenção requer, das perspectivas diversificadas e opostas que acarreta. Assim entendida, a praxis, no sentido da Cidade não poderia ser separada de uma pluralidade de atores e de locutores, pluralidade à vida da qual a paridade, quer dizer ao mesmo tempo a amizade e a diferença, a philia e a eris, são igualmente indispensáveis. Para a Cidade, a praxis se sustentava portanto de uma estreita sinonímia entre os sintagmas zoon politikon e zoon logon echon. Porque estreitamente ligada à discussão de perspectivas diversas e cambiantes, esta praxis-aí requeria uma estrita paridade entre aqueles que a exerciam. Pela mesma razão, ela acarretava, na época da isonomia, uma desconfiança permanente a respeito daqueles que, se prevalecendo de uma competência superior, ameaçavam suprimir a cada cidadão o direito de julgar e de dizer seu julgamento, e além do mais ameaçavam, em se fazendo passar por especialistas em matéria pública, de modelar os humanos segundo seus planos, e de subordinar assim a praxis a uma forma de poiesis, subordinação que teria remetido o mundo grego ao nível dos bárbaros. (1995, p. 149-150)
McNeill
I would like to affix as an exergue to this essay the words of Aristotle from the beginning of the Politics: ho de bios praxis ou poiesis estin (Politics, 1254 a.)
These words deal with life, not in the sense of zoe, but in the sense of the mode of being (or existing) specific to humans. Translated: The mode of being of humans does not consist in producing, but in acting. In Greek, the verb poiein and the substantive poiesis designate an activity involving things rather than people, whereas the verb prattein and the substantive praxis designate an activity concerned first and foremost with the agents themselves.
Certainly, the distinction between these two activities played a decisive role in the way the Greeks of the polis viewed the excellence of their mode of living as compared to that of the barbarians. To the Greeks, the barbarians were conspicuous in their patent deficiency regarding praxis. The barbarians — in the least favorable case — could spend their entire existence immersed within the eternal cycle of life and under the yoke of its necessities. Or — in the most favorable case — they could reach high achievements in the activity of making or producing all sorts of artifacts not found in nature and in the know-how necessary for such a production. Yet, for the Greeks of the city, the barbarians could never attain the excellence of (112) praxis: eu prattein (acting well). For the Greeks of the city, such an excellence, such an eu prattein resided in the very activity of the citizen, in politeuein. This political praxis is neither an activity by which a living being relates to the eternal cycle of life, nor one by which the craftsman relates to the demands of his work. It is the activity by which individuals relate to others in their sharing of words and deeds; in such a sharing, what is at issue is their being-together and the exercise of all the virtues that this sharing presupposes: temperance, courage, justice, and prudence (phronesis).
Praxis, equated with the very exercise of citizenship, is tightly connected to speech, to lexis, and to the individuals’ assertions and discussions on what, to them, appears true and essential. Naturally, this exercise occurs through the renewed efforts required for the preservation of their precious common world, a safekeeping which they express and carry out from various and opposed perspectives. Thus understood in terms of the polis, praxis cannot possibly be separated from a plurality of actors and speakers, a plurality whose vitality depends upon the fact that they are all peers sharing a bond of friendship and challenge (philia and eris are both indispensable). For the city, praxis entails a close proximity between the expressions zoon politikon and zoon logon echon. Because praxis is tightly bound with the discussion of issues from various and changing perspectives, it requires the strict condition of parity and equality of participants, for those who take part in it. For the same reason, during the period of isonomia (equality before the law), it entails a permanent distrust for those who boast of a superior expertise, thereby threatening the continued exercise of the other citizens’ rights to pass judgment on issues and to speak their minds. But also more importantly, these people threatened to shape all human affairs according to their own plans (since they passed themselves off as experts in things public) and to subordinate praxis to a form of poiesis: The success of this process would have reduced the Greek world to the level of the barbarians. (p. 111-112)
Original
Je placerai en exergue de mon propos les mots d’Aristote au début de la Politique : ὁ δὲ βίος πρᾶξις οὐ ποίησις ἐστιν (1254 a). Ces mots concernent la vie non pas au sens de la ζῷή mais au sens du mode d’être ou d’exister des humains. Ils disent : le mode d’être des humains ne consiste pas à produire mais à agir. En grec, le verbe ποιεῖν et le substantif ποίησις désignent une activité qui porte sur des choses plutôt que sur des gens, tandis que le verbe πράττειν et le substantif πρᾶξις désignent une activité qui concerne d’abord les agents eux-mêmes.
Il ne manque pas de témoignages pour attester que la distinction entre ces deux activités a joué un rôle décisif dans la manière dont les Grecs de la πόλις envisageaient l’excellence de leur mode d’exister comparé au mode de vie des barbares. A leurs yeux, les barbares se signalaient par une carence foncière en matière de πρᾶξις. Dans le pire des cas, le mode d’être des barbares, peu importe qu’ils aient vécu dans la pénurie ou dans l’abondance, ne dépassait guère l’immersion pure et simple dans l’éternel retour de la vie, et la soumission au joug de la nécessité naturelle. Dans le meilleur des cas, le mode d’être des barbares pouvait atteindre de remarquables succès dans l’ordre de la ποίησις, dans la production de toutes sortes d’œuvres qui n’ont pas d’équivalent naturel et dans le savoir-faire inhérent à cette production, mais jamais pourtant, aux yeux des Grecs de la Cité, les barbares n’atteignaient l’excellence de la πρᾶξις, l’εὖ πράττειν. Pour les Grecs de la Cité, cette excellence, cet εὖ πράττειν résidaient dans l’activité même du citoyen, dans le πολιτεύειν, activité qui ne relie pas un vivant au cycle éternel de la vie, qui ne relie pas davantage un artisan à tous les tenants et aboutissants de son ouvrage, mais qui relie des (150) individus à d’autres individus dans le partage des paroles et des actes qui concernent leur être-ensemble, et dans l’exercice de toutes les vertus que ce partage suppose : tempérance, courage, justice, prudence (φρόνησις). Ainsi confondue avec l’exercice même de la citoyenneté, la πρᾶξις est intimement liée à la parole, à la λέξις, à la déclaration et à la discussion par des individus soucieux de ce monde commun, de ce qui leur apparaît de ce monde, des initiatives renouvelées que son maintien requiert, des perspectives diversifiées et opposées qu’il entraîne. Ainsi entendue, la πρᾶξις au sens de la Cité ne saurait être séparée d’une pluralité d’acteurs et de locuteurs, pluralité à la vie de laquelle la parité, c’est-à-dire à la fois l’amitié et le différend, la φιλία et l’ἔρις sont également indispensables. Pour la Cité, la πρᾶξις se soutenait donc d’une étroite synonymie entre les syntagmes ζῷον πολιτικόν et ζῷον λόγον ἔχον. Parce qu’étroitement liée à la discussion de perspectives diverses et changeantes, cette πρᾶξις-là requérait une stricte parité entre ceux qui l’exerçaient. Pour la même raison, elle entraînait, à l’époque de l’isonomie, une méfiance permanente à l’égard de ceux qui, se prévalant d’une compétence supérieure, menaçaient de dérober à chaque citoyen le droit de juger et de dire son jugement, davantage menaçaient, en se faisant passer pour experts en matière publique, de modeler les humains selon leurs plans, et de subordonner ainsi la πρᾶξις à une forme de ποίησις, subordination qui eût ravalé le monde grec au niveau des barbares.