GA19: o objeto da phronesis é o Dasein

Casanova

Aristóteles começa com a questão de saber o que se compreende no ser-aí natural por φρόνησις (circunvisão) ou que (51) homem é denominado um φρόνιμος (ente circunvisivo). δοκεΤ δή φρονίμου είναι το δυνασθαι καλώς, βουλευσασθαι περί τα αυτώ αγαθά καί συμφέροντα, ου κατά μέρος, όιον ποια πρός υγιειαν ή πρός ’ισχυν, αλλά ποια πρός το ευ ζην όλως (1140a25ss.)· “Um φρόνιμος (ser circunvisivo) é evidentemente alguém que pode refletir bem, apropriadamente”, alguém que é βουλευτικός (alguém que delibera); e, em verdade, que pode refletir apropriadamente “aquilo que é bom — que constitui o estar pronto — propício αυτω, para ele mesmo, para aquele que reflete…”. O objeto da φρόνησις (circunvisão) é, portanto, em verdade, determinado como aquilo que também pode ser de outro modo, mas ele tem desde o princípio uma referência àquele mesmo que reflete. Em contrapartida, a reflexão da τέχνη (arte) se refere pura e simplesmente àquilo que contribui para a produção de algo diverso, a saber, do εργον (obra), na medida em que esse pode contribuir para aquele mesmo que reflete. Ο άληθεύειν (desvelamento) da φρόνησις (circunvisão) possui, portanto, em si mesmo a direção da remissão para ο άληθεύων (o verdadeiro) mesmo. Nós não designamos como um φρόνιμος (ser circunvisivo), porém, aquele que reflete κατά μέρος (parcialmente) de maneira correta, isto é, no que concerne a determinadas contribuições que podem ser feitas em um certo aspecto, por exemplo, no aspecto da saúde ou da força corporal, para o ser-aí; ao contrário, nós denominamos alguém φρόνιμος (circunvisivo), quando ele reflete de maneira correta, ποια πρός το ευ ζην όλως, sobre “ο que é propício para o modo correto do ser do ser-aí como tal na totalidade”. Ο βουλευεσθαι (deliberação) da φρόνησις (circunvisão) diz respeito ao ser do próprio ser-aí, que seria ευ ζην, isto é, ele diz respeito ao fato de o ser-aí ser um ser-aí correto. Por conseguinte, a φρόνησις (circunvisão) tem a referência em si πρός τέλος τι σπουδαιον (1140a29ss.), “a um tal τέλος (fim), no qual há seriedade”; e, em verdade, ών μη εστιν τέχνη (a30), “com relação a um tal ente, que não é tema de uma fabricação, de uma produção”. Ο τέλος (fim) da φρόνησις (circunvisão) não é, por conseguinte, nenhum παρά (ao lado de ) ante o ser do próprio refletir, tal como acontece com (52) ο εργον (obra) da τέχνη (arte). No caso da φρόνησις (circunvisão), o objeto do refletir é muito mais a própria ‘ζωή (vida); o τέλος (fim) possui o mesmo caráter ontológico que a φρόνησις (circunvisão). της μεν γάρ ποιήσεως έτερον το τέλος, της δε πραίεως ουκ αν εΐη: έστιν γάρ αυτή ή ευπραγία τέλος (1140b6ss.). “No caso da ποιησις (produção), ο τέλος (fim) é algo diverso, no caso da πράξις (ação), porém, não; justamente, a própria ευπρα’ξια (agir pleno) é ο τέλος (fim).” Junto à φρόνησις (circunvisão), ο πρακτόν (o que precisa ser feito) possui o mesmo caráter ontológico que o próprio άληθεύειν (desvelamento). E é de se supor que ο τέλος (fim) esteja aqui descoberto e mantido; trata-se justamente do ser daquele mesmo que reflete. Ο φρόνιμος (ente circunviso) não equivale, assim, ao τεχνίτης (àquele que possui uma arte); pois ο άληθεύειν (desvelamento) do τεχνίτης (daquele que possui uma arte) é um άληθεύειν (desvelamento), que se relaciona a um outro ser. (p. 50-52)

Rojcewicz & Schuwer

Original

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

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