6. Se a ciência não trouxesse a marca da sua esterilidade, se tivesse de algum modo enriquecido o espírito humano, a miséria e a vulgaridade da vida não seriam tão fundas nesta época de apanágio científico. Se a oposição entre a ciência e a vida é tão grande, é porque a ciência constitui a negação de tudo quanto dá um sentido, revela e afirma o valor da vida; seu progresso, desde a chamada Idade Moderna, foi paralelo à perda dos valores que haviam plasmado o universo do Cristianismo, quando o homem se encontrou como um ser perdido no mundo, buscando em vão uma finalidade que não se podia encontrar fora da sua extinta faculdade de crer em Deus. A Renascença não foi sequer uma renascença dos ideais antigos, mas apenas uma decomposição inicial dos ideais do Cristianismo; sem energia para viver os ideais do Cristianismo, também não a tiveram os homens da Renascença para reviver o mundo grego: ao contrário, tanto quanto o mundo grego girava em torno do sacral e do divino, tanto a Renascença começou a girar em torno do laico e do profano. A Renascença iniciou a decomposição e a análise de tudo quanto era sagrado na Igreja e desde então nada mais se tem feito do que destruir a fé que havia sustentado os séculos anteriores; tudo quanto precedeu a Renascença foi composição de um sentido e uma finalidade para a vida; e tudo quanto lhe sucedeu foi uma decomposição desse mesmo sentido e finalidade; disto deriva o caráter negativo do pensamento posterior à Renascença, que não afirma valores novos, mas apenas critica, decompõe e destrói valores antigos; seu justo nome é criticismo porque não passa de uma crítica de valores; uma anti-cultura ou uma contra-cultura. Seu traço essencial é a planificação do mundo por uma projeção da razão científica. O mundo planificado é um mundo que não tem sentido, porque não é o mundo real.