Quando o neopositivista Rudolf Carnap quis demonstrar que a metafísica é uma falsa ciência porque fala de coisas que não existem ou não existem da maneira como ela as descreve, ele escolheu como exemplo um texto de Heidegger que girava em torno do conceito de nada. Nesse texto, Heidegger contrastava o antigo princípio “do nada, nada surge” com o aforismo “do nada surge tudo o que existe”; ele falava de uma “experiência do nada”, do “nada que nadifica”, do “nada que se revela”, e assim por diante. Como pode, perguntava Carnap, o nada fazer tudo isso, se é nada?
No entanto, as especulações sobre o nada sempre constituíram uma corrente importante da tradição filosófica. A pergunta: “Por que existe algo em vez de nada?”, com a qual Heidegger concluía seu texto, não foi inventada por ele. Ela expressa a atitude que os antigos consideravam fundamental para o filósofo: o espanto diante do mundo, do qual surgem todas as questões da filosofia.
Além disso, o mundo, tal como aparece à primeira vista, foi frequentemente considerado pelos filósofos como uma mistura de ser e nada, porque as coisas que ele contém não têm estabilidade nem duração: são efêmeras, nascem e morrem, vêm e vão; o que significa que elas passam continuamente do nada para o ser ou do ser para o nada, e que o nada é um componente delas tanto quanto o ser. Platão via o mundo nesse sentido: como algo intermediário entre a realidade e o nada, uma mistura de positivo e negativo, um compromisso entre a verdade e a ilusão.
Toda investigação, seja de natureza filosófica ou científica, não se contenta com as aparências que o mundo apresenta, mas busca discernir, além delas, a realidade que elas escondem ou manifestam de forma imperfeita. Agora, na medida em que as aparências não são reais, ou seja, não existem, elas constituem o reino do irreal ou do inexistente, o reino do nada. E o próprio fato de que existem aparências, erros, ilusões e que, onde quer que o homem se volte, pode se deparar com elas, é frequentemente reinterpretado como um sinal da presença do nada. A imperfeição, o mal, a destruição que os homens experimentam diariamente e que estão na base de suas dores, medos e angústias também parecem indicar a presença desse elemento negativo.