No século XIX, torna-se corrente o discurso acerca dos valores [Rede von den Werten] e é comum pensar em valores. Mas só no seguimento da propagação dos escritos de Nietzsche é que o discurso dos valores se tornou popular. Fala-se em valores vitais, em valores culturais, em valores eternos, na hierarquia dos valores, em valores espirituais que, por exemplo, se crê encontrar na antiguidade. [Man spricht von Lebenswerten, von den Kulturwerten, von Ewigkeitswerten, von der Rangordnung der Werte, von geistigen Werten, die man z. R. in der Antike zu finden glaubt] Com a ocupação erudita com a filosofia, e com a transformação no neokantismo, chega-se à filosofia dos valores 1. Edificam-se sistemas de valores e perseguem-se na ética as camadas de [210] valores [Schichtungen von Werten]. Mesmo na teologia cristã, determina-se Deus, o summum ens qua summum bonum, como o valor supremo. Tem-se a ciência como isenta de valores e lançam-se as valorizações para o lado das mundividências [Weltanschauungen]. O valor 2 e o carácter de valor [Werthafte] tornam-se no substituto positivista do metafísico. A frequência do discurso dos valores corresponde a indeterminação do conceito. Esta, por seu lado, corresponde à obscuridade da proveniência essencial do valor a partir do ser. Pois posto que este tão falado valor não é um nada, ele tem de ter a sua essência no ser.
[HEIDEGGER, Martin. Caminhos de Floresta. Tr. Irene Borges-Duarte et alii. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 2014, p. 262]