Richir (1992:35-36) – distinção entre interior e exterior

destaque

A riqueza do pensamento husserliano reside aqui no modo como repensa a distinção entre interior e exterior — e, portanto, entre imanência e transcendência — não como uma distinção “metafísica”, mas como uma distinção fenomenológica interna ao corpo-da-carne (Leib). É um Leib interno que se exterioriza no que é ainda um Leib externo, e não um Körper, um corpo separado da mente. Não há intimidade da Innenleiblichkeit, e neste sentido intimidade da vida do eu (ipse), se não houver, de forma estritamente correlativa, uma quiasma entre duas corporeidades-de-carne, interna e externa, isto é, se esta divisão não aparecer a si mesma na apresentação dos outros através da mesma quiasma que aí se realiza. Só sou encarnado — comentámos noutro lugar — se me vejo num outro encarnado. Poderíamos já dizer, neste ponto do nosso percurso, que a Stimmung — e, portanto, a afetividade — só me aparece como Stimmung encarnada em mim, aquilo que eu experimento e não a Stimmung anônima do mundo ou da vida, ou mesmo do mundo da vida, se eu já estiver encarnado na comunidade fenomenológica encarnada dos outros. Teremos várias oportunidades de voltar a esta questão tão importante. É de fato assim que Husserl a considerará, mas para a apreendermos em toda a sua sutileza, precisamos ainda de especificar melhor o contexto.

original

[RICHIR, Marc. Méditations phénoménologiques. Phénoménologie et phénoménologie du langage. Grenoble: Jérome Millon, 1992]

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

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