(…) Se dirigimos a ATENÇÃO de nosso olhar para as coisas, ou seja, se em meio ao enunciado sobre o giz dirigimos a ATENÇÃO de nosso olhar para a coisa mesma, então podemos apreender nessa coisa a determinada propriedade de ela ser branca; nessa ATENÇÃO do olhar (Aufmerken) para a coisa experimentamos ao mesmo tempo que essa coisa, que somente agora apreendemos expressamente, já era antes por si subsistente. Reside no caráter desse prestar ATENÇÃO na coisa o fato de a coisa mesma nos dizer em certa medida: eu já estava aí, antes de tu me apreenderes. Nesse prestar ATENÇÃO nas coisas não trazemos nada a elas nem — como diríamos — lhes contrabandeamos nada por meio do discurso, mas são elas, as coisas mesmas, que vêm ao nosso encontro dessa forma. O prestar ATENÇÃO nas coisas, aparentemente uma atividade desenvolvida por nosso turno, um tornar aparente, ou, utilizando as palavras de Kant, uma espontaneidade (Spontaneität) aparente de nós mesmos, não é, contudo, segundo sua essência propriamente dita, senão justamente um deixar-vir-ao-encontro (Begegnen-lassen), uma passividade peculiar, uma receptividade peculiar. Em meio a esse deixar-vir-ao-encontro não há nem a “impressão” (Eindruck) de algo de fora nem um sair de dentro para fora a partir de nós mesmos; portanto, tampouco algum espaço interior; ele não é nem uma relação causal nem transcendência às avessas. Esse deixar-vir-ao-encontro é, em certa medida, espontaneidade, mas uma espontaneidade tal que possui intencionalmente o caráter do acolher (Hinnehmen), do aceitar, do receber. (GA27PT:77-78)