Trawny (2017c:3-4) – universal

Por universal, entendo um campo de significados incondicionalmente válido. Se, por exemplo, considerarmos a ideia de Platão sobre o bem, podemos entender que a ideia do bem não se aplica apenas à Grécia ou à Alemanha, portanto, não apenas em uma topografia específica, mas também em todas as topografias possíveis — na verdade, talvez até mesmo além da topografia como tal. O ser humano distingue o bem do mal, independentemente de onde ou quando (estou me expressando intencionalmente de forma um tanto vaga). Heidegger, entretanto, parece entender algo diferente pelo termo universal, como veremos.

Um significado é universal quando é compreendido sempre e em toda parte. O universal é, portanto, um significado que se mantém independentemente de uma linguagem específica, independentemente de uma história específica, independentemente até mesmo das condições sociais. Os significados da matemática, da tecnologia, ou seja, da ciência, e possivelmente até mesmo o significado do capital, são todos universais. A natureza também é universal. E, no entanto, o significado da distinção entre bem e mal, o significado de liberdade (em vários sentidos) e até mesmo o significado de amor também são universais. O corpo e o gênero também poderiam ser universais.

Minha tese é que, entre esses universais, Heidegger reconhece apenas o da matemática e da ciência, ou seja, a tecnologia. De fato, no fundo, ele nem mesmo reconheceu isso como um universal, mas pensou nisso como um “destino” do ser. Assim, ele inscreveu na frente, entre o começo e o fim, aquilo entre o “lugar” e o “não-lugar”, entre o “lar” e a “falta de lar”. E a maquinação apareceu como o “princípio da destruição”, que — como o cálculo, a tecnologia e talvez até mesmo o capital — torna impossível toda forma de localização particular.

(MITCHELL, A. J.; TRAWNY, P. Heidegger’s Black notebooks: responses to anti-Semitism. New York (N.Y.): Columbia university press, 2017c)

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

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