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Marlène Zarader (1949)
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Vou limitar-me a sublinhar três pontos que me parecem ser os mais significativos. 1) O primeiro é a especificidade desta essência original em relação a todas as concepções da linguagem que nos são familiares. Tudo se passa como se Heidegger, regressava neste ponto, aquém de uma das conquistas mais decisivas do pensamento ocidental: a teoria…
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Perante a concepção dominante, em que consiste então a «experiência» impensável? No caminho traçado pelo curso de 1952 (GA8), é balizada por duas palavras, que permitem esclarecer o radical Denken: a memória (Gedächtnis) e o reconhecimento do sentido de agradecimento (Dank). Mas tratasse aqui apenas, do quadro mais geral. Queria dentro deste quadro, restabelecer as…
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(Derrida) Mostra como Heidegger, após ter retrocedido do spiritus para o pneuma, acaba (no texto de 1953) por transpor os limites do próprio pneumático no sentido do fogo: nesse fogo do espírito, Derrida reconhece «o caminho da delimitação ou da partilha que teria de passar segundo Heidegger, por uma determinação grega ou cristã, ver onto-teológica,…
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A primeira destas figuras é a da verdade. Primeira, não no tempo da obra (apanhada na sua configuração de conjunto, é pelo contrário uma das mais tardia), mas por ser a única onde Heidegger não se limita em cumprir o movimento em questão: pensa nele e explicita-o, enuncia a sua lei. É a razão pela…
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Vimos-o claramente no caso do kairos. A experiência cujo texto de São Paulo testemunha, marca solidamente a obra heideggeriana; é aquilo que é geralmente reconhecido. Resta saber como interpretá-lo. Lehmann que se dedica a isso, coloca à partida a questão certa: «Visto as repercussões no Sein und Zeit da experiência da própria história do cristianismo…
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(…) A essência no sentido verbal, o Wesen heideggeriano, seria em todos os casos «não conteúdo, mas sim condição de possibilidade»1; seria para ser entendida como envasamento «formal» que torna possível «qualquer preenchimento material»2. Ora parece-me que uma definição deste tipo só se aplica à essência do Dasein, tal como é apresentada no Sein und…
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No fim da sua obra, o próprio Heidegger considerava que a «experiência fundamental» que impulsionou toda a sua meditação foi a da Seinsvergessenheit: do esquecimento do ser; ser que muito precocemente reconheceu que não «era» à maneira do sendo, que era o Outro de qualquer sendo. Mas restava dar conta desse esquecimento. Se este foi…
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(…) o ser não é presença constante, menos ainda sendo supremo; o ser propriamente falando não «é»; não é um sendo. O que é então? O primeiro passo para responder a uma questão deste tipo consiste em dizer: com e no sentido denuncia-se de uma certa forma o Outro de todo o sendo, esse outro…
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(…) Num sentido, uma vez que a filosofia se define por sua relação com a exterioridade, a experiência do encontro — com o que surpreende o pensamento — é a sua possibilidade inaugural. Noutro sentido, é claro que a filosofia só aceita esta experiência na condição de ter sido primeiro metamorfoseada, de ter sido despojada…
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Mas como pode este ente ser, quer dizer vir à presença e perdurar nessa presença, se não for a partir de um espaço de jogo prévio, que é o único a conceder-lhe o eclodir como presente? É esse espaço de jogo que Heidegger chama o Aberto (das Offene). E é precisamente porque tudo o que…
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É neste ponto que se impõe uma nova distinção. A primeira consistia em dissociar o começo da origem, com o fim de mostrar (33) que o pensamento (das Denken) devia ultrapassar este em direção àquela. A segunda consiste em dissociar, no interior do pensamento da origem, duas das suas modalidades possíveis, correspondendo a duas finalidades…
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Desde sempre, a «lógica»1 apresenta-se como a «doutrina do pensamento correcto»2 que, enunciando as regras do comportamento pensante, determina o que deve ser o pensamento. Mas verificar, (204) sem mais, este parentesco de facto entre o pensamento e a lógica apenas pode conduzir a descrever a nossa história (admitida como evidente) e não a esclarecê-la…
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A segunda parte da aula O que chamamos pensar? (GA8) — que pode aqui ser considerada como texto de referência — segue um movimento de conjunto especialmente revelador. Desde a primeira aula, estamos confrontados com a «clivagem»: apresentando os múltiplos sentidos da sua interrogação, Heidegger distingue logo entre a determinação do pensamento que tem, desde…
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No caso do pensamento, a situação inverte-se. De facto, Heidegger parte bem, num primeiro tempo, do pensamento (visto metafisicamente como lógico) ao logos inicial; e desvia-se de facto, num segundo tempo (nem que fosse apresentado como provisório) da meditação do logos para se deixar conduzir no sítio original do (221) pensamento através do Gedanc alemão.…
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Voltemos então as duas aulas (GA60) de Fribourg sobre as quais detemos informações suficientemente conscientes. Quais são os conceitos do Novo Testamento que interessam então Heidegger, e no que se torna esse interesse na obra posterior? A maior parte da aula de 1920 é consagrada a meditar duas epístolas de São Paulo: a Primeira aos…
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Ora é precisamente Heidegger que Lévinas coloca o mais longe possível do seu próprio pensamento e dos ensinamentos bíblicos. (175) A leitura que propõe é singular. Bem longe de distinguir entre a tradição ontológica e a crítica radical que Heidegger apresenta, ele considera pelo contrário a sua obra como o local onde se junta e…
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O Erörterung apresenta várias características paralelas às do Ort. Já notámos na anterioridade do local, em relação a tudo aquilo que concede: o local e a origem, o aquilo a partir de onde. De facto, o primeiro traço da situação, será que ela se orienta para a condição de possibilidade. Essa linguagem — marcada pelo…
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Primeiro a definição. É balizada por três vocábulos chave, que só encontram a sua ressonância no alemão: die Erklärung (a explicação), die Erläuterung (a elucidação ou o esclarecimento), die Erörterung (a situação)1. A explicação é o modo de pensamento dominado pelo princípio da razão, modo de pensamento que encontra o seu pleno desenvolvimento na ciência…
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(…) Viver é viver num mundo, numa linguagem, num sentido. Quer este sentido seja ou não tematizado, quer este mundo seja ou não objeto de uma apreensão explícita, ambos estão sempre pressupostos em cada objetivo de conhecimento, implícitos em cada palavra — em suma, estão sempre presentes ao mesmo tempo que o ato de existir.…
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O que é, então, o horizonte, e porque é impossível passar sem ele? Husserl propõe uma resposta dupla que, em Ideias, pode parecer uma e a mesma, mas que se tornará dupla no resto da obra. No primeiro sentido, o horizonte é pensado como o fundo de toda a experiência: o objeto da consciência implícita…