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THOMAS SHEEHAN (1941)
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A tarefa vital que Heidegger se propôs pode ser dividida em dois momentos: analítico e protréptico. O momento analítico foi concebido para se desdobrar em duas etapas. Heidegger propôs (1) revelar a fonte da significatividade em geral (= SZ I.1–3); e então (2) confirmar e ampliar essa análise mostrando que, embora o clareira (abertura) lançada…
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A questão fundamental de Heidegger sobre a fonte da inteligibilidade foi uma investigação profundamente pós-nietzschiana. Em uma era em que não há um Fundamento do Ser sob nossos pés e nem Ideias Divinas acima de nossas cabeças, como o significado surge? Sem invocar um padrão divino de verdade, ou os mitos das ideias platônicas ou…
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O ser é compreendido de uma maneira definida, e, como algo assim compreendido, está aberto para nós. (GA40:125) Tudo o que compreendemos, e de qualquer maneira que nos seja aberto na compreensão, dizemos que tem inteligibilidade. (GA40:89) Para Heidegger, “ser” não se refere à mera presença física de uma coisa aos órgãos dos sentidos. Em…
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A coisa mais surpreendente sobre a vida cotidiana não é que as coisas existam por aí no mundo, como objetos independentes que se colocam diante de nós, mas que elas nos impactam, nos tocam, invadem nossas vidas, nos preocupam e, em suma, são significativas para nós.1 No curso normal de nossas vidas diárias, as coisas…
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(…) O termo de Heidegger para qualquer instância concreta e pessoal de abertura hermenêutica é Dasein, ao passo que a sua palavra exata para a “essência” ou estrutura ontológica de qualquer ex-sistência concreta e pessoal é Existenz ou Da-sein (normalmente com hífen, mas Heidegger nem sempre é coerente). Traduzo ambos os termos igualmente como ex-sistência…
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Na tradição recebida, a tríade que estrutura o In-Sein é Befindlichkeit, Verstehen e Rede. Tanto quanto se pode rastrear, essa tradição surge pela primeira vez em La Philosophie de Martin Heidegger (1942), de Alphonse de Waelhens. No entanto: (1) Embora os três fenômenos sejam equiprimordiais, não é claro que sejam “componentes” constitutivos ex aequo da…
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O Da de Da-sein nunca deve ser traduzido como “aqui” ou “aí”, como é habitual nos estudos atuais (por exemplo: ser-aí, estar aqui, being t/here). Heidegger insiste que “Da ≠ ibi und ubi” (GA71) (o Da do Da-sein não é de todo um advérbio locativo: “aqui” ou “aí”). Em vez disso, o Da deve ser…
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Na sua forma mais básica, a vida é um impulso natural para estar em curso para além de si, um desdobramento contínuo de si (Sich-zeitigung), de modo a aparecer num novo eidos, que por sua vez gera cada vez mais possibilidades, incluindo a sua possibilidade sempre presente de morte. Na medida em que a vida…
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Cada ser vivo — e não apenas um ser humano — é marcado com a caraterística essencial de Zu-sein, que significa tanto ter que ser como possibilidade quanto ter que se tornar ele mesmo como possibilidade para permanecer vivo. Um ser vivo tem o seu τέλος como auto-preservação (Selbst-erhaltung) (GA29-30). É levado a sobreviver, a…
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O ápice do pensamento grego é atingido na tematização de Aristóteles do Ser como energeia no sentido de emergência no ergon. Ergon não significa “trabalho” como o efeito da produção técnica, mas antes aquilo que se moveu para a presença não velada do seu eidos. A actualitas latina, no entanto, lê o ergon da energeia…
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1.1 Heidegger distingue entre – Existenz, também conhecido como Dasein: a estrutura (existencial) do ser humano; e – as pessoas e atividades (existentiel) que esta estrutura torna possíveis. 1.2 Seguindo o exemplo de Heidegger (GA 80.1: 71.22), traduzo Existenz/Dasein como ex-sistência, intencionalmente mal escrito e hifenizado de modo a enfatizar a sua etimologia (ἔξ-ἵστημι). A…
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2. A EX-SISTÊNCIA É O MUNDO DO SENTIDO 2.1 A ex-sistência é transcendente, lançada à frente como o campo do significado possível — aquilo a que Heidegger chamou o Aberto, a clareira, o mundo social e linguístico doador de significado, o nada, o Urphänomen (GA 14: 81.13), e por vezes Seyn. 2.2 Enquanto Aberto, a…
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3. A EX-SISTÊNCIA ABRE O MUNDO DO SENTIDO 3.1 Enquanto “lançada à frente”, a ex-sistência mantém aberto (aussteht) o mundo do sentido. 3.1.1 O “lançamento” indica a Befindlichkeit, o fato a priori de estarmos afetivamente sintonizados com o mundo do sentido e com tudo o que nele encontramos. 3.1.2 “À frente” indica Verstehen — não…
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4. A EX-SISTÊNCIA É PREOCUPAÇÃO (SORGE) COM O SENTIDO 4.1 Enquanto “lançada à frente”, a ex-sistência é simultaneamente “presente a”. 4.1.1 O “lançado à frente” indica que a atualidade da ex-sistência é possibilidade. 4.1.2 A “presença-a” indica que, enquanto possibilidade, a ex-sistência é capaz de dar sentido a si própria e a tudo o que…
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A metafísica toma as coisas (o que quer que seja real, o que quer que “tenha ser”) como seu objeto material e, em seguida, pergunta sobre o que faz com que elas sejam reais. Na leitura tradicional da metafísica de Aristóteles (e aqui eu me concentro em seu momento ontológico e me abstenho de seu…
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[(O trabalho de Heidegger foi fenomenológico do começo ao fim.)] [(O que Heidegger quer dizer com das Sein é a inteligibilidade das coisas, sua presença significativa (Anwesen) para a inteligência humana, tomada no sentido amplo de νοῦς e λόγος, seja ela prática ou teórica.)] [(O objetivo final de Heidegger, a chamada “coisa em si”, não…
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Junto com a “história das dispensações” de Heidegger, e de fato inseparável dela, está a história do Seinsvergessenheit, o chamado “esquecimento do ser” na metafísica ocidental. Mas esse é um termo errôneo: tanto a frase em alemão quanto a em inglês obscurecem mais do que transmitem. O ser (Sein, Seiendheit, οὐσία, εἶναι, etc.) certamente nunca…
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O que acontece quando o sentido falha? Como a forma de vida definida pelo λόγος, fomos feitos para o sentido, mas também somos capazes de vivenciar seu colapso. Isso pode ocorrer em vários níveis. Há o fracasso do sentido prático-ôntico quando, por exemplo, uma ferramenta escolhida não se encaixa mais na tarefa designada porque a…
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(…) Heidegger argumenta que Aristóteles entende sempre as coisas como fenômenos – isto é, como aquilo que aparece no campo do comportamento e da interpretação humanos. A frase de Aristóteles τὸ ὄν λεγόμενον (as coisas na medida em que são tomadas em λόγος) refere-se às coisas na medida em que as apreendemos como inteligíveis desta…
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Heidegger’s use of Sinn and Bedeutung evolves over time and is not always consistent, but in any case he does not use these terms the way either Frege or Husserl do. Sinn does not refer to an ideal unity of sense, a pure, unchanged ideality that is unaffected by the psychological acts that grasp it,…