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WILLIAM J. RICHARDSON (1920-2016)
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Agora, a existência humana, assim entendida, Heidegger também chama de “transcendência”. Para nós, a palavra é desconcertante, porque já vimos que ela é profundamente metafísica em suas implicações. Mas estávamos vendo a questão em retrospecto. No período com o qual estamos lidando agora (1927), o autor não tinha nada além de palavras metafísicas para trabalhar…
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Com Platão, essa concepção grega primitiva de φύσις-άλήθεια, sc. a verdade concebida como não encobrimento, sofre uma transformação, pois, embora por um lado as Ideias mantenham o sentido original de ά-λήθεια, na medida em que são concebidas fundamentalmente como uma fonte de luz em razão da qual, por meio da participação, os “entes” da experiência…
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Heidegger também endossa, e isso é fundamental, a insistência de Kant sobre a finitude do homem. As próprias questões que dão origem à metafísica (especial) denotam a finitude do ser que as coloca: perguntar “o que posso…?” é perguntar “o que não posso?” e, portanto, trair uma limitação essencial; perguntar “o que deveria … ?”…
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Uma vez que consideramos o pensamento em termos de sua relação essencial com a linguagem, é possível inferir de que forma o pensamento e o trabalho diferem um do outro? Propomos a seguinte hipótese: ambos os processos seriam maneiras pelas quais o Ser-aí permite que o Ser polivalente brilhe. Eles se diferenciariam apenas no seguinte:…
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(…) o que Heidegger entende que Hölderlin quer dizer com “poetizar”. “… Descrever essa medida, deixá-la servir como medida e aceitá-la como medida: isso é o que (Hölderlin) quer dizer com poetizar…” Mas por que chamar isso de poetizar? Se nos restringirmos ao texto em si, há apenas uma dica. Dizem-nos que o processo de…
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Mais uma vez, a palavra “morada” designa a estrutura fundamental do Ser-aí, à medida que ele se aproxima dos entes. Agora, porém, a concepção é desenvolvida por uma nova metáfora. O poema de Hölderlin que Heidegger interpreta aqui lhe permite dizer que, se o homem mora “na terra”, ele também olha para o “céu”. Portanto,…
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Desde o início do caminho, Heidegger enfatizou a negatividade de Ά-λήθεια, ou seja, a finitude do fenômeno com o qual está lidando. Para ele, o ser é o processo pelo qual os entes finitos emergem da ocultação — isso e nada mais. Se nos restringíssemos à perspectiva de Heidegger I, teríamos que dizer que o…
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Heidegger sempre enfatizou a finitude de cada emissão do Ser e parece pronto para admitir a finitude até mesmo de seus próprios esforços de pensamento. De fato, seria fácil catalogar os índices textuais de tal atitude, mas, por razões de brevidade, nos limitamos às perspectivas que consideramos até agora. Testemunha o esforço permanente do autor…
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Antes de concluirmos essa pesquisa geral, vale a pena chamar a atenção para o fato de que uma resposta autêntica ao apelo do Ser é precisamente o que Heidegger entende por “filosofia”. Ele desenvolve esse ponto em um discurso para os filósofos da França em 1955. (GA11) A palavra apareceu pela primeira vez, afirma o…
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Por mais alheios que os pré-socráticos possam ter sido à diferença ontológica, como o próprio Heidegger a tematiza, eles tinham um profundo senso do processo-do-Ser, pois concebiam o Ser como φύσις. O que quer que seja que surja espontaneamente, ou que se abra e se desdobre, e que, tendo se desdobrado, apareça em uma auto-manifestação…
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(…) Se eventualmente distinguirmos vários componentes diferentes nesse processo de transcender, eles são, no entanto, todos sintetizados em uma unidade profunda, o processo único de um Ser-aí cuja única preocupação é resgatar a si mesmo, para (continuar a) ser. Essa unidade Heidegger chama de “preocupação” (Sorge), um termo que, assim como “decadência”, não tem para…
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… Se, no entanto, devemos pressupor que o Ser-aí é dotado de uma compreensão do Ser, não devemos também admitir como pressuposto o que é compreendido? Certamente parece que sim, mas o autor é menos explícito aqui. Heidegger pressupõe uma concepção de Ser que nem todos acharão tão evidente quanto ele. Como devemos entendê-la? Se…
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O fato de Heidegger ter certas pressuposições ao iniciar sua tarefa ninguém negará – muito menos Heidegger. Em primeiro lugar, ele pressupõe que no homem já existe uma compreensão do Ser. A partir disso, ele desenvolve, como vimos, as noções de Aí-ser (There-being), existência e transcendência. Na medida em que a análise do Aí-ser que…
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Vimos que a tarefa da ontologia fundamental é discernir o Ser do Aí-ser. Dado o fato de que o Ser é aquilo por meio do qual os entes (Aí-ser (There-being)) se manifestam enquanto o que são e como são, então, de que outra forma a ontologia fundamental discernirá o Ser do Aí-ser a não ser…
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Dado o fato de que devemos fazer uma análise fenomenológica do Aí-ser (There-bieng, Dasein) no homem, sob quais circunstâncias começaremos? Lembre-se dos termos do problema: o Aí-ser é uma compreensão intrinsecamente finita do Ser. Uma das consequências dessa finitude é o fato de que o Aí-ser toma sua prerrogativa tão completamente como garantida que se…
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O primeiro fato da análise fenomenológica do mundo-circundante (Umwelt) é que ele está repleto de outros entes que não o Aí-ser. Em alusão ao sentido grego de πράγματα como aquilo de que se faz uso (πρᾶξις) na ocupação cotidiana, o autor opta por descrevê-los como instrumentos (Zeuge) ou ferramentas, indicando assim uma utilidade inerente a…
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O Aí-ser é a passagem da transcendência finita, que, nas circunstâncias cotidianas, é primeiramente discernível como um ente cuja natureza é ser-no-mundo. Ao analisá-lo, seguimos a ordem do autor, primeiro tentando desvincular o sentido do mundo para o qual o Aí-ser transcende e, em seguida, o sentido do que significa ser “em” tal mundo. Não…
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O primeiro fato da análise fenomenológica do mundo-circundante (Umwelt) é que ele está repleto de outros entes que não o Aí-ser. Em alusão ao sentido grego de πράγματα como aquilo de que se faz uso (πρᾶξις) na ocupação cotidiana, o autor opta por descrevê-los como instrumentos (Zeuge) ou ferramentas, indicando assim uma utilidade inerente a…
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Vamos começar com um fato inicial: mesmo antes de fazer a pergunta, o homem tem alguma compreensão do Ser. Não importa o quão escuro ou obscuro o próprio Ser possa ser para ele, ainda assim, em sua relação mais casual com outros entes, eles estão suficientemente abertos para ele de modo que possa experimentar que…
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O que Heidegger faz nesses seminários (de Zollikon)? Em uma palavra, ele oferece aos psiquiatras um curso intensivo sobre alguns dos conceitos fundamentais de Ser e tempo, que tinham inicialmente despertado o entusiasmo de Boss. E quem seria mais apto do que ele para realizar essa tarefa? Aqueles conceitos, agora, são moeda corrente, e facilmente…