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WILLIAM MCNEILL (1961)
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A segunda forma de conhecimento que Aristóteles considera é a techne, aqui entendida no sentido restrito de know-how que diz respeito a fazer ou produzir. A techne tem como objeto algo que passa por mudanças. Seu objeto (o produto) passa por mudanças no sentido específico de que, antes do processo produtivo, ainda não existe em…
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Pois o noûs apreende o que é último (eschaton) em ambos os aspectos, uma vez que os últimos e as delimitações primárias (proton horon) são apreendidos pelo noûs e não pelo logos. Nas demonstrações, o noûs apreende as delimitações imutáveis e primárias, nas inferências práticas ele apreende o fato último (eschatou) que pode ser de…
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(…) O animal pode ver porque tem olhos ou tem olhos porque pode ver? O que o olho do animal pode realizar em cada caso e a estrutura do olho como órgão devem ser compreendidos em termos da capacidade de ver. A capacidade de ver, por outro lado, não pode ser adequadamente determinada em termos…
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Nosso primeiro capítulo tornou visível o Ser ou Dasein dos seres humanos como um habitar na presença de outros entes, um habitar primeiramente possibilitado pelo fato de o Dasein ser mantido, por meio da sintonização da Angústia, em uma abertura futura para o seu próprio ter-sido, uma abertura na qual o momento da ação, o…
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(…) Por enquanto, vamos nos deter por um momento no que Heidegger em Ser e Tempo identifica como a peculiaridade, ou Eigentümlichkeit, da angústia: a “indeterminação peculiar” daquilo na presença do qual o Dasein se encontra sintonizado na angústia (SZ:188); a “temporalidade peculiar” da angústia, de tal forma que “ela é originalmente fundamentada no ter-sido,…
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É no curso de 1929-30, Os Conceitos Fundamentais da Metafísica, de 1929-30: Mundo, Finitude, Solidão (GA29-30), entretanto, que Heidegger aponta mais claramente para o elemento transformador do engajamento proto-ético. E o que está em questão aqui é precisamente a resposta do indivíduo ao discurso da analítica — uma questão, em suma, de se uma possibilidade…
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Uma terceira discussão sobre a primeira linha da Metafísica aparece no curso que se segue diretamente às palestras do Sofista: os Prolegômenos à História do Conceito de Tempo (GA20), ministrados no semestre de verão de 1925 e destinados a serem retrabalhados na primeira divisão de Ser e Tempo. Como na obra magna, a discussão ocorre…
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Mas porque é que, em primeiro lugar, o ver e a visão se tornaram o modo privilegiado de acesso às coisas no desenvolvimento explícito do conhecimento, quer do conhecimento cognitivo, quer do conhecimento mais essencial atribuído à sabedoria? Porque não a audição ou o olfato, o tato ou o paladar? Noutro lugar, Heidegger argumenta que…
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Nas palestras sobre o Sofista no curso do semestre de inverno de 1924/25, Heidegger tenta traçar a gênese da forma suprema de conhecimento “científico” ou episteme, a saber, a sophia amada pelos filósofos, uma gênese retratada nos dois primeiros capítulos do Livro I da Metafísica.1 Ali, Aristóteles apresenta sua investigação como partindo das opiniões e…
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(…) devido à sua capacidade de auto-produção, auto-renovação e autorregulação, o organismo deve ter dentro de si uma força ativa específica ou um agente vital, uma “entelequia”. Esta conclusão, insiste Heidegger, encerra o problema da essência da vida. Pois implica algum tipo de causa eficiente que origina e controla o movimento e o desenvolvimento do…
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Em sua “Carta sobre o ‘Humanismo’” (1946), Heidegger apontou inequivocamente para o significado fundamental da tragédia grega do ponto de vista de seu próprio pensamento sobre o Ser. “As tragédias de Sófocles“, afirmou ele, “— desde que tal comparação seja permissível — abrigam o êthos em suas falas mais primordialmente do que as palestras de…
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(…) O argumento de que a relação consigo mesmo tem precedência ontológica sobre o cuidado com os outros é apresentado pelo próprio Heidegger na tese de que o Ser do Dasein é constituído por ser sempre meu (Jemeinigkeit). Essa tese foi, e continua sendo, tão mal compreendida que Heidegger sentiu imediatamente a necessidade de realizar…
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Dizer que o Dasein em seu Ser é uma relação com o si mesmo é, portanto, dizer que o Dasein existe primordialmente como possibilidade, ou seja, como liberdade.1 No entanto, essa liberdade é ao mesmo tempo indeterminada, irredutível a um modo determinado de existir a qualquer momento, e também, em cada caso, minha, não no…
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Assim, o Livro I da Metafísica narra a história de um desdobramento ininterrupto da visão, desde seus estágios mais primitivos e básicos de percepção sensorial até sua forma suprema e mais elevada, encontrada no theorein pertencente à sophia. Conta a história do que podemos chamar de gênese natural do comportamento teórico, uma gênese que se…
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(…) Phronesis refere-se ao conhecimento pertencente à praxis humana, na medida em que essa atividade constitui um fim em si mesma. Ela é descrita como “uma disposição reveladora que ocorre por meio do logos (hexis alethe meta logon), preocupada com a ação em relação ao que é bom e ruim para os seres humanos” (Ética…
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A sophia pertence à faculdade epistêmica. No Livro VI da Ética a Nicômaco, Aristóteles começa sua consideração sobre a sophia lembrando-nos de que sua contraparte, a episteme, é incapaz de apreender os primeiros princípios a partir dos quais demonstra verdades científicas. Nem a techne nem a phronesis nos permitem apreender esses archai, pois lidam com…
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O ponto central da phronesis é o que Aristóteles, na Ética a Nicômaco, identifica como uma aisthesis prática, uma visão prática ou “percepção” que revela a arche e o telos finais da praxis, ou seja, a situação concreta da ação em toda a particularidade de sua existência. A phronesis, como Aristóteles coloca, “diz respeito ao…
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(…) a relação entre a escolha prévia (prohairesis), a deliberação (bouleuesthai) e a aisthesis prática merece mais atenção. Pois a premissa principal do silogismo prático, o fim específico escolhido, é de fato subserviente a algum outro fim ou bem. Isso implica que qualquer fim particular da praxis é, em si mesmo, apenas um meio para…
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A visão prática que informa a phronesis ocorre em um olhar momentâneo; é um momento de “concreção mais extrema”, um momento que, como diz Heidegger, orienta ou se direciona para “o que é mais extremo” (das Äußerste), avista o eschaton absoluto: O noûs da phronesis visa ao que é mais extremo no sentido do eschaton…
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Mas o que é que significa “ter” olhos? E será que ver é simplesmente o resultado de ter olhos? No curso de 1929-30, Heidegger começa a sua elucidação da essência do organismo tentando libertar a nossa compreensão do organismo e dos seus órgãos de qualquer concepção instrumental. No entanto, a própria palavra órgão, derivada do…