Tag: (A) Gadamer
HANS-GEORG GADAMER (1900-2002)
-
Mesmo pesquisadores interessados na história das palavras, muitas vezes não prestam suficientemente atenção ao fato de que a contradição artística entre alegoria e símbolo, que nos parece autoevidente, é apenas o resultado do desenvolvimento filosófico dos últimos dois séculos e de cujo início se deve esperar tão pouco que, antes, tem-se de fazer a pergunta…
-
O fato de que a contradição do profano e do sagrado se mostra como relativa, sob as nossas premissas, é algo que está perfeitamente em ordem. Basta nos lembrarmos do significado e da história do conceito da profanidade. Profano é o que está posto frente ao santuário. O conceito do profano e o conceito da…
-
Parece que, de todos os sinais, o que tem maior realidade própria é a lembrança. A lembrança intenciona o passado e é, nesse sentido, realmente um sinal, mas é valiosa para nós mesmos, porque mantém presente para nós o passado, como uma (158) parte dele mesmo, que não é passado. Seja como for, é evidente…
-
um sinal não é nada mais do que aquilo que exige a sua função; e essa é a de referir de si para outra coisa. Para poder preencher essa função, é preciso que, de início, ele atraia a atenção para si. Tem de chamar a atenção, ou seja, tem de destacar-se nitidamente e apresentar-se no…
-
A essência do quadro encontra-se ao mesmo tempo, no meio, entre dois extremos. Esses extremos de representação são o puro referir — a essência do sinal — e o puro fazer as vezes de outro (Vertretten) — a essência do símbolo. De ambos há alguma coisa na essência do quadro. Sua representação contém o momento…
-
A distinção do símbolo frente ao sinal, que o conduz à proximidade do quadro, está à mão. A função de representação do símbolo não é a de uma mera referência a algo não-presente. Mais do que isso, o símbolo deixa sobressair como presente, algo que, no fundo, está sempre presente. Isso já se mostra no…
-
Sob o nome de instituição compreendemos a origem da adoção do sinal ou da função do símbolo. Mesmo os assim chamados sinais naturais, p. ex., todos os indícios e prenúncios de uma ocorrência natural são instituídos nesse sentido básico. Isto significa, somente se encontram numa função de sinal, quando são experienciados como sinais. Mas somente…
-
É evidente que o conceito do decorativo está sendo pensado aqui, a partir da oposição à “obra de arte autêntica” e a partir de sua origem na inspiração genial. Argumenta-se, por exemplo, assim: o que somente é decorativo não é arte do gênio mas ofício da arte. Como meio, está submetido àquilo que deve adornar,…
-
Mas a interpretação não se limita aos textos e à compreensão histórica que neles se deve alcançar. Todas as estruturas de sentido concebidas como textos, desde a natureza (interpretatio naturae, (435) Bacon), passando pela arte (cuja carência de conceitos (Kant) converte-se em exemplo preferencial de interpretação (Dilthey)), até as motivações conscientes ou inconscientes da ação…
-
Schleiermacher, de cuja teoria hermenêutica ainda nos ocuparemos mais tarde, está inteiramente empenhado em reconstruir na compreensão a determinação original de uma obra. Pois arte e literatura, que nos são transmitidas do passado, nos chegam desenraizadas de seu mundo original. Nossas análises já demonstraram que isso vale para todas as artes, e portanto também para…
-
Face a isso (a reconstrução proposta por Schleiermacher), Hegel oferece uma possibilidade diferente, isto é, de compensar entre si o ganho e a perda da empresa hermenêutica. Hegel tem a mais clara consciência da importância de qualquer restauração, quando ele, com relação ao ocaso da vida antiga e de sua “religião da arte”, escreve: “As…
-
A crítica bíblica de Spinoza é um bom exemplo disso (e ao mesmo tempo um dos primeiros documentos). No capítulo 7 do Tractatus theologico-politicus Spinoza desenvolve seu método interpretativo da Escritura Sagrada, apoiando-se na interpretação da natureza: partindo dos dados históricos tem-se de inferir o sentido (mens) dos autores — enquanto que nesses livros são…
-
A crítica da Bíblia, que conseguiu se impor amplamente no século XVIII, como mostra essa indicação a Spinoza, possui, em caráter absoluto, um fundamento dogmático na fé na razão do Aufklärung, e, de um modo semelhante, existe toda uma outra série de precursores que preparam o pensamento histórico, entre os quais há, no século XVIII,…
-
Mais ainda: a teologia da Reforma parece nem sequer ser consequente. Ao acabar reivindicando como fio condutor para a compreensão da unidade da Bíblia, a fórmula de fé protestante suspende, também ela, o princípio da Escritura, em favor de uma tradição reformatoria, que em todo caso é breve. Sobre isso, e deste modo, já apresentaram…
-
Em francês, o termo aparece ligado à escritura e à obra. A noção de autor transforma-se durante os séculos XVII e XVIII, à medida que se constrói o “primeiro campo literário” (Viala, 1985). Inicialmente, o autor é quem responde por seus escritos, é o alvo potencial da censura e por esse motivo deve assinar suas…
-
Cremos haver compreendido melhor o que é a leitura de um texto. Na verdade, jamais existirá um leitor ante o qual se encontre simplesmente aberto o grande livro da história do mundo mas também não deverá nunca um leitor que, com um texto ante seus olhos, leia simplesmente o que está nele. Em toda leitura…
-
Ao que me parece, Kierkegaard já comprovou a insustentabilidade dessa posição, ao reconhecer a consequência destrutiva do subjetivismo, e ao ser o primeiro a descrever a autodestruição da imediaticidade estética. Sua doutrina do estágio estético da existência foi projetada do ponto de partida do ético, a quem se tornou patente a impossibilidade de salvação e…
-
A identidade do eu, assim como a identidade do sentido, que se constrói através dos participantes do diálogo, permanece intocada. É evidente que nenhuma compreensão de um pelo outro dialogante consegue abranger todo o âmbito do compreendido. Nesse ponto, a análise hermenêutica deve se desfazer de um falso modelo de compreensão e entendimento. Por isso,…
-
Aliás, a gente não consegue apreender corretamente a essência da própria memória, caso nela não vejamos nada mais do que uma disposição ou uma capacidade genérica. Reter, esquecer e voltar a lembrar pertencem à constituição histórica do homem e formam mesmo uma parte de sua história e de sua formação. Quem exercita sua memória como…
-
É claro que a analogia entre os dois modos de ser criador tem seus limites, que correspondem às diferenças, antes acentuadas, entre palavra divina e humana. A palavra divina cria o mundo, mas não o faz numa sequência temporal de pensamentos criadores e de dias da criação. O espírito humano, pelo contrário, somente possui a…