Tag: (A) Figal

GÜNTER FIGAL (1949), filósofo alemão professor da Universidade de Freiburg, discípulo de Hans-Georg Gadamer

  • Não obstante, já se pode compreender um pouco melhor o conceito heideggeriano de fenomenologia como retenção da possibilidade se se esclarece o contexto ao qual esse conceito está ligado aqui. Esse contexto aponta para a determinação da relação entre possibilidade e realidade, tal como Kierkegaard a desenvolveu. Em seu escrito sobre o Conceito de angústia,…

  • Com relação à arte, Heidegger e Gadamer falam menos de beleza e mais ainda de verdade. No que diz respeito à beleza, Heidegger limita-se à observação lacônica de que a beleza é “uma maneira pela qual a verdade (domina) como desvelamento” (GA5:43). A verdade é “a abertura do aberto” (48) que é “inserida” na obra…

  • (…) De maneira diversa da filosofia prática de Aristóteles, a hermenêutica da facticidade heideggeriana (art180) não depende de nenhuma ontologia porque ela mesma é uma ontologia. “A problemática da filosofia”, assim encontra-se formulado no Relatório-Natorp, diz respeito ao “ser da vida fática” [GA62:364]. Este fato não pode ser compreendido no sentido de uma mera explicitação…

  • (…) uma situação paradoxal surge a partir da concepção heideggeriana da compreensão: nunca antes o conceito de compreensão foi filosoficamente tão central, pois nunca antes lhe foi atribuída uma significação ontológica e até mesmo “ontológico-fundamental”; a autocompreensão do ser-aí se transforma aqui no ponto crucial para a compreensão de ser em geral. Este emprego do…

  • A formulação heideggeriana relativa ao “inserir-se no ente” (Sicheinlassen auf das Seiende) não é certamente isenta de problemas e o mesmo se dá com o seu discurso acerca de uma certa “liberação” (Freigabe). Os dois parecem contradizer a tese de que se trataria aqui de um puro deixar e poderiam conduzir, ao invés disso, à…

  • Ao introduzir o termo “conjuntura”, Heidegger quer apreender mais exatamente o caráter não manifesto e a não-objetualidade do utensílio: “O ente é descoberto na medida em que, como esse ente que é, está referido a algo. Esse algo tem a sua conformidade com ele junto a algo. O caráter ontológico do manual é a conjuntura…

  • Por “disposição” (Befindlichkeit) tem-se em vista antes de tudo “a tonalidade afetiva, o ser afinado” (ST, 134). Uma tonalidade afetiva (Stimmung) não é, por sua vez, o mesmo que um sentimento ou um afeto. Heidegger quer tornar efetivamente compreensível o fato de também os sentimentos e os afetos serem “modos” da disposição e não quer…

  • (…) “O projetar (Entwerfen) não tem nada em comum com um comportar-se (Sichverhalten) em relação a um plano imaginado, de acordo com o qual o ser-aí erige o seu ser, mas, como ser-aí, ele já sempre se projetou e é, uma vez que é, de maneira projetiva. Ser-aí compreende-se sempre já e sempre ainda, enquanto…

  • (…) Isso que se pôde, assim o diz Heidegger, não “é nenhum quid, mas o ser como existir. No compreender (Verstehen) reside existencialmente o modo de ser do ser-aí como poder-ser (Sainkönnen). Ser-aí não é um ente simplesmente dado (Vorhandensein), que ainda possui como suplemento o poder algo. Ao contrário, ele é primariamente ser-possível (Möglichsein).…

  • Quando nos aproximamos de algo diverso, acontece uma transposição: algo diverso, alheio, é transportado de lá para cá, é transformado em algo próprio e aí reconhecido. O processo, tal como a palavra o indica, é determinado por meio de intervalo e distanciamento; algo está em um lugar diverso daquele em que nós mesmos estamos e,…

  • No entanto, também há uma experiência de constância na chegada e no ir embora: a repetição. Parece claro o que isto significa: algo acontece que já aconteceu uma vez ou várias vezes. Por exemplo, um dia começa uma vez mais e fazemos novamente o mesmo que tínhamos feito nos dias anteriores. Aqui, algo se repete,…

  • Husserl toma o fato de os processos mentais que possuem o caráter de intencionalidade poderem se tornar eles mesmos tema do pensamento como um ensejo para tomar a consciência como um “ser imanente”1 e para cindi-la do que não é consciência. Mediante a reflexão acerca dos processos mentais em sua intencionalidade, esses processos não se…

  • A filosofia prática já está em jogo como modelo, no momento em que Heidegger caracteriza a hermenêutica da facticidade como “o ser desperto do ser-aí para si mesmo”1. Esse pensamento pode ser acompanhado retrospectivamente até Sócrates e sua sentença fundamental “cuida de ti mesmo”. Se a mensagem é não se preocupar com aquilo que pertence…

  • O próprio Heidegger não utiliza o termo “responsabilidade” no contexto atual [da culpa, Ser e Tempo §58 (ET58)]; e, mesmo em ST, só o utiliza uma vez, a saber, em meio à análise do impessoal (ST, 127). Exatamente isso, contudo, justifica interpretar o “ser-fundamento de…” como responsabilidade. A exortação inerente ao clamor da consciência (Stimme…

  • (…) Por si só, o fato de, em razão da inevitabilidade de determinados comportamentos (Verhalt) e de determinados projetos (Entwurf), algo assim como uma inocência própria no ser-aí ser impossível poderia ser certamente elucidativo. De outra maneira, Heidegger não poderia absolutamente falar de um ser culpado (Schuldigsein) originário e dizer que, por meio do clamor…

  • De início, porém, com o discurso sobre a hermenêutica da facticidade, o que se designa para Gadamer é a virada decisiva de Heidegger contra a fenomenologia de Husserl. Com o seu título programático, Heidegger contrapôs a essa fenomenologia uma “exigência paradoxal”: “A facticidade impassível de ser fundamentada e derivada que é própria ao ser-aí, a…

  • Tem-se mais uma vez presente que, com aquilo que a cada vez lidamos, sempre há uma conexão (Zusammenhang) com o que não lidamos e, justamente por isso, é possível dizer que, no mundo, somos de modos determinados, mas que nessa determinidade também está em jogo uma indeterminidade: àquilo que deixamos sossegado nunca pode receber plenamente…

  • Se quisermos compreender o que Heidegger tem em vista com a expressão “ser-no-mundo”, nos veremos inicialmente remetidos para a sua explicação do “em” presente nessa fórmula. Tal como Heidegger quer mostrar em articulação com uma derivação etimológica de J. Grimm: “Em” (In) não possui originariamente nenhuma significação espacial, mas “provém de innan-, morar, habitare, manter-se;…

  • Uma vez que as tonalidades afetivas (Stimmung) tornam manifesta a inacessibilidade do comportamento (Verhalt), elas mostram a “abertura de mundo do ser-aí” (Weltoffenheit des Daseins) (ST, 137). “Abertura de mundo” não pode significar nesse caso que o “ser-aí” está aberto para um mundo ou em vista de um mundo. Se se dissesse isso, então ter-se-ia…

  • Heidegger chega ao conceito do “ser culpado originário” (Schuldigsein) na medida em que analisa mais exatamente a determinação formal da culpa (Schuld). “Na ideia de (225) ‘culpado’” (Schuldig) reside “o caráter do não” (Charakter des Nicht) (ST, 283). Juntamente com a característica anteriormente já trabalhada em meio à análise da culpa, esse caráter conduz do…

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

Designed with WordPress