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DASTUR, Françoise (1942)
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Para pensar a não substancialidade e a pertença essencial do Quatro (Geviert), Heidegger, tal como Fink, recorre ao conceito de jogo, que implica uma relação dinâmica entre os diferentes elementos: “A este jogo que nos faz aparecer, ao jogo de espelhos da simplicidade da terra e do céu, chamamos “o mundo”. O mundo é na…
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Boss tinha ficado impressionado com a forma como Heidegger fala, na secção 26 (ET26) de Ser e Tempo, sobre a “preocupação antecipatória”, ao ponto de ver nela a descrição da relação terapêutica ideal, porque a sua própria teoria da transferência coincide exatamente com uma tal prática de libertação no quadro de uma análise que deve…
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Heidegger afirma em Cerisy, em 1955, que “não existe uma filosofia heideggeriana”. Não haveria, portanto, em sentido estrito, “heideggerianos”: nem escola, nem discípulos, menos ainda uma “seita”. Não ser o fundador de nenhuma escola ou de nenhuma religião é o que é próprio de Sócrates, que é talvez o pensador mais puro do Ocidente por…
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Dizer que este método é grego é dizer que é filosófico e que é ordenado por aquilo a que Husserl chamou nas Investigações Lógicas “o princípio da ausência de pressuposição”. O método cartesiano, por outro lado, é matemático: em vez de deixar que o que se mostra seja puramente presente, ele é medido por evidências…
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A dimensão performativa do pensamento de Heidegger é já percetível nos seus primeiros escritos. É inseparável do projeto de uma “hermenêutica da facticidade” (que é o título de um curso de 1923 publicado como GA63 (1988) e traduzido como Heidegger, Ontologia: Hermenêutica da Facticidade) — isto é, de uma compreensão da existência que permanece inerente…
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É na medida em que é uma tal abertura — que impede que seja ele confundido com o que a filosofia moderna chama de “sujeito” e que ela entende como uma interioridade opondo-se à exterioridade dos objetos — que o Dasein, porque não é indiferente a seu próprio existir, pode, todavia, designar a si mesmo…
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Falar da relação “terapêutica” é, portanto, uma espécie de pleonasmo semelhante ao que nos fez falar do “Dasein humano” (GA89:ZS, 120). O nome singular de Verhältnis é Sorge, ocupação e cuidado do ser, que é o único que pode permitir que um ser, no seu triplo sentido, tenha um encontro. Não devemos, pois, ficar espantados,…
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O possível tem sido, na filosofia moderna, sempre definido como inferior ao real e ao efetivo. É assim que, na lista das categorias kantianas, a possibilidade se opõe, enquanto categoria modal (isto é, no que concerne à relação do entendimento com a existência dos objetos), à realidade e à necessidade: o possível designa, consequentemente, o…
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É na medida em que é uma tal abertura – que impede que seja ele confundido com o que a filosofia moderna chama de “sujeito” e que ela entende como uma interioridade opondo-se à exterioridade dos objetos – que o Dasein, porque não é indiferente a seu próprio existir, pode, todavia, designar a si mesmo…
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A fenomenologia da mortalidade exige, então, a redução de qualquer tese sobre a morte, seja qual for sua origem, para nos colocar diante do “puro fenômeno” da mortalidade. Ora, esse “puro fenômeno” da mortalidade tem o sentido intrínseco de uma relação daquele que pensa com sua própria morte. Essa relação que Heidegger chama de Sein…
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Se não é próprio da morte como tal nenhuma experiência e nenhum pensamento possível, se o “nada” que ela “é” não pode senão impor o silêncio ao discurso conceituai, e se ela constitui o não-fenômeno por excelência, o que não me aparece jamais “em pessoa”, dela pouco subsiste como o demonstram tanto as mitologias quanto…
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Toda la originalidad del pensamiento de Heidegger tiende en efecto a la elucidación del sentido temporal de lo que la tradición occidental desde su comienzo (con Parménides, Platón y Aristóteles) ha nombrado “ser”. Heidegger parte de esta simple constatación: la ousía (el ser, o mejor dicho, la entidad) es comprendida por los griegos como presencia…
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Se ninguém pode atenuar ou anular a responsabilidade do outro sobre sua própria morte e não pode, no sentido estrito, morrer pelo outro, isso implica que o morrer não é somente uma determinação extrínseca da existência, um “acidente” da substância “homem”, mas, ao contrário, um atributo essencial deste. A relação que o ser humano mantém…
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Mas a superação da concepção transcendental do mundo não significa a supressão da capacidade projetiva do Dasein, mas antes a sua subordinação ao acontecimento primordial da abertura do mundo em que o Dasein se encontra. Para Heidegger, o problema não é tanto inverter o modo de pensar transcendental, atribuindo ao mundo o papel ativo que…
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Em Sein und Zeit, o mundo é, de facto, descoberto pela primeira vez apenas como Umwelt quotidiano e no contexto de uma atitude específica em relação ao ente intramundano, a da preocupação (Besorgen), na qual Heidegger vê o conceito ontológico a partir do qual tanto o comportamento teórico como o prático podem ser compreendidos. É,…
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Numa entrevista a Boss de setembro de 1968 (isto é, do período em que Boss estava a elaborar o livro que acabamos de citar 1, com a ajuda de Heidegger), Heidegger afirma que “o método de investigação apropriado ao Dasein não é em si mesmo fenomenológico, mas depende e é guiado pela fenomenologia no sentido…
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A diferença entre Binswanger e Boss aparece com isso que se poderia chamar de querela dos existenciais, e que apresenta um duplo aspecto: a caracterização heideggeriana do Dasein como ser-no-mundo e a possibilidade ou impossibilidade de completar a analítica existencial. De fato, Boss condena Binswanger por definir o Dasein unicamente a partir de seu ser-no-mundo…
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Binswanger, a despeito de algumas afirmações imprudentes, não desconhece a diferença entre o nível ontológico das análises heideggerianas e o nível propriamente antropológico onde ele situa as suas. Sua oposição fundamental a Heidegger advém, como ele mesmo explica, do fato de que ele fala “não do Dasein enquanto a cada vez meu, teu ou seu,…
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A co-apresentação de si mesmo ou do alter ego se funda, então, na estrutura temporal fundamental que conjuga retenção e protenção. Consequentemente, é ela que é preciso inicialmente elucidar. Ainda que Binswanger se baseie, sobretudo, na obra de Szilazi, Introduction à la phénoménologie de Edmund Husserl (Introdução à fenomenologia de Edmund Husserl), um livro de…
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Considerando que Husserl não hesitou, na carta que escreveu em março de 1935 a Lucien Lévy-Bruhl, depois de ter lido A Mitologia Primitiva, livro que este acabara de publicar, em sublinhar o facto de os primitivos serem “sem história” (geschichtslos) e sem qualquer relação com o tempo, pelo que vivem em sociedades “estagnadas” e fechadas…