Tag: Caron
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(…) o Dasein não é o sujeito, nem está destinado a substituir o sujeito, o que significaria ocupar um lugar onticamente determinado que sabemos ser impróprio para a profundidade da ipseidade. Quando Heidegger escreve “o Dasein faz tal e tal coisa”, “o Dasein atua de tal e tal modo”, “o Dasein pensa isto ou aquilo”,…
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Dasein não quer dizer o fato para o homem de se encontrar aí, é rigorosamente impossível traduzir Dasein por ser-aí, o que remeteria à existência do Vorhanden (subsistente). O Da do Dasein não significa, rigorosamente, o aqui, mas o lá. Ele é a transcendência espacial do si que faz do si um ser do longe…
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Por outro lado, o ser-sempre-meu (Jemeinigkeit), tal como é exposto no § 9 de Sein und Zeit, não representa qualquer sentimento de ordem psicológica. “O Dasein é sempre meu”: isto não significa que o local do seu desdobramento seja o senso interno através do qual nos experimentamos na nossa individualidade. Pelo contrário, qualquer senso interno…
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A introspecção só é possível a partir de uma compreensão do ser e, por conseguinte, a partir de uma transcendência do si mesmo sobre o seu próprio corpo e sobre qualquer situação definida onticamente. Em se intro-espectando, o si mesmo está sempre noutro lugar que não aquele onde pensa estar, e quanto mais intenso for,…
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Em 1924, na sua conferência sobre o conceito de tempo, Heidegger minimizou o caráter de “meu” do fenômeno do ser-sempre-meu (Jemeinigkeit), chamando a este fenômeno Jeweiligkeit, isto é, ser-a-cada-vez, e sublinhando assim que a aparência do meu é apenas um sinal de uma verdade mais essencial. Heidegger sublinha assim o que deve ser reconhecido como…
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O desacordo fundamental entre a fenomenologia, tal como Husserl a quis legar àqueles que considerava seus discípulos, e a fenomenologia, tal como Heidegger pretendeu abri-la às possibilidades que nela existem, é a questão do solo, ou seja, a origem da subjetividade. Como nota J.-F. Courtine, “é a questão do solo (Boden) que é decisiva para…
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A razão pela qual a fenomenologia perde assim a sua vocação para a Coisa e se dispersa nas coisas ou nos fenômenos, é este gosto ilimitado por análises concretas que não cumprem a exigência de um regresso à fonte do desdobramento do ego. É precisamente isto que atrai muitos zelotas a Husserl, inebriados pelo luxo…
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A principal conquista da fenomenologia é excluir tudo o que não se enquadra no domínio de imanência do eu puro e, em contrapartida, realçar o poder constitutivo do ego. O ego, sendo essencialmente intencional, contém em si a possibilidade de construção e significação de qualquer mundo. O objeto assenta estruturalmente numa multiplicidade de atos de…
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Interrogar a essência da essência não é regredir ad infinitum quando essa essência aparece como o próprio ser, pois ao interrogar o ser encontramo-nos precisamente perante aquilo que permite apreender o menor objeto e, ao mesmo tempo, perante aquilo que, pela sua indefinição, torna possível a interrogação. O ser é, portanto, o elemento último para…
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Para Husserl, o homem é considerado de dois pontos de vista distintos: como consciência transcendental ou sujeito, não-ente constitutivo do ente; como existência factícia ou ente situado entre outros entes. A consciência transcendental dá razão ao ser do homem como existência factícia: ela é constituinte. Mas a posição de um sujeito constituinte é um dos…