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BYUNG-CHUL HAN (1959)

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  • Em Heidegger, há rastros de pensamento que se condensam em uma ética da inatividade. Ela vale tanto para as relações entre humanos como também para a relação com a natureza. Pouco antes de sua morte, Heidegger escreveu um pequeno escrito com o título Recordação de Marcelle Mathieu. O tema do escrito é a hospitalidade de…

  • Alguns anos depois de Ser e tempo, Heidegger realiza a passagem da ação para o ser. O pathos da ação dá lugar ao espanto sobre o ser: […] o festejar, enquanto interrupção do trabalho, é já um conter-se, é prestar atenção, é perguntar, é reflexão, é espera, é a passagem para um pressentimento mais desperto…

  • Ser e tempo é dominado inteiramente pela ênfase no si-mesmo e na ação. Também a morte é compreendida a partir do poder-ser-si-mesmo. Em vista da morte como “possibilidade extrema” de “renunciar a si mesmo”, desperta um enfático eu-sou. A morte, como minha morte, caminha conjuntamente com a ênfase no si-mesmo. Ela leva a uma contração…

  • Também o tédio não é, para Heidegger, nenhum pássaro onírico que choca o ovo da experiência. Ele é interpretado, igualmente, como um apelo à ação. No tédio, assim como na angústia, o mundo escapa ao ser-aí; isto é, escapa-lhe o ente no todo. O ser-aí recai em um vazio paralisante. Todas as “possibilidades da ação…

  • A angústia representa, em Ser e tempo, a “disposição fundamental”, pois ela confronta o “ser-aí” (a designação ontológica para o ser humano) com o ser-no-mundo. Em oposição ao medo, que meramente se relaciona com algo no mundo, o “de que” da angústia é o mundo como tal: “Aquilo de que a angústia se angustia é…

  • Também a “renúncia” faz parte do vocabulário da inatividade de Heidegger. Ela significa tudo, menos desistir ou deixar passar. Como outras figuras da inatividade, ela estimula uma relação construtiva com aquela esfera do ser que permanece fechada à atividade conduzida pela vontade. A renúncia é uma paixão pelo indisponível. Na renúncia, tornamo-nos receptíveis para a…

  • A contemplação é oposta à produção. Ela se relaciona com o indisponível como algo já dado. O pensar está sempre recepcionando. A dimensão da dádiva no pensar (Denken) faz dele um agradecer (Danken). No pensar como agradecer, a vontade se resigna (abdanken) inteiramente: “O espírito nobre paciente seria um puro repousar-em-si de toda vontade que,…

  • Não é fácil marcar o Aí (das Da) linguisticamente, pois ele se furta ao proposicional. Ele não se encontra disponível nem no pensamento nem na intuição. Os arrepios lhe estão mais próximos do que a retina. Ele se abre pré-reflexivamente. O Ser-Aí (Da-Sein) se exprime, primeiramente, como Ser-Disposto (Gestimmt-Sein) que também precede o Ser-Consciente (Bewusst-Sein).…

  • Alguns anos antes do Vita activa ou sobre a vida ativa de Arendt, Heidegger proferiu uma palestra com o título Ciência e reflexão (Besinnung). Em oposição à ação que impulsiona adiante, a reflexão nos traz de volta para onde sempre já estamos. Ela nos abre um ser-aí (Da-Sein) que precede todo fazer, todo agir, e…

  • Também Heidegger se aproxima da filosofia da inatividade de Zhuang Zhou. A “serenidade” [Gelassenheit] de Heidegger contém uma dimensão da não ação. Os seres humanos destroem a Terra ao arrancá-la de sua “modesta lei do possível” e submetê-la a uma total disponibilização: “Primeiro a vontade que se orienta inteiramente pela técnica distende a Terra na…

  • A experiência, em sentido enfático, não é um resultado do trabalho e do desempenho. Ela não se deixa produzir pela atividade. Antes, ela pressupõe uma forma particular de passividade e de inatividade: “fazer uma experiência com algo, seja com uma coisa, com um ser humano, com um deus, significa que esse algo nos atropela, nos…

  • Toda teoria da imagem reflete a sociedade na qual ela está inserida. No tempo de Lacan, o mundo ainda é vivenciado como passível de olhar. Também em Heidegger encontramos formulações que são desconcertantes para nós, hoje. Em Origem da obra de arte, ele escreve: “utensílio: jarro, machado ou sapatos. A serventia é aquele traço fundamental a partir…

  • Uma atrofia muscular aflige a vida na modernidade. Ela é ameaçada pela desintegração do tempo. Com sua Recherche, Proust tenta combater a atrofia temporal, a perda do tempo que se dá na forma de uma atrofia muscular. O reencontro do tempo aparece em 1927. Neste ano, Heidegger publica Ser e tempo. Heidegger, todavia, também escreve resolutamente contra a atrofia temporal da modernidade, que desestabiliza e fragmenta a vida.…

  • O cumprimento dissolve dialogicamente aquela tensão interpessoal que leva à luta e à submissão. A dialética que atenua o desafiador gruozen, transformando-o em um cumprimento, é um processo de mediação dialógica. O diálogo é uma relação binária entre pessoas. A tensão antagônica não é superada por meio de uma negação da alteridade. Afinal, o cumprimento…

  • Heidegger não é um filósofo do caminho. Ele gira em torno do ser. Assim, ele o associa à calma, ao silêncio e à duração. O processo e a mudança, que constituem o dao, não são traços fundamentais do ser: “demorar significa: perdurar, ficar quieto, parar e deter-se, ou seja, na calma. Goethe diz em um…

  • Heidegger sempre foi tocado pelo pensamento do Extremo Oriente. Mas, em muitos aspectos, permaneceu um pensador ocidental, um filósofo da essência. Até o seu silêncio é eloquente. Ele está a caminho do “velado”, da “origem” que foge à palavra. Assim, a verdade deve ser “silenciada”. Uma frase famosa de Heidegger em A caminho da linguagem…

  • Para Heidegger, Kant seria um pensador “genuíno” na medida em que olha para as profundezas e para os abismos do ser. Segundo Heidegger, o pensamento “ama” o abismo. Ele se deve à “clara coragem para a angústia essencial” (GA9). O início do pensamento não é a confiança no mundo, mas a angústia. Assim, o pensamento…

  • O fato de o caminhante não deixar rastros também tem um significado temporal. Ele não insiste nem persiste. Antes, ele existe na atualidade. Uma vez que caminha “sem direção”, ele não segue o tempo linear ou um tempo histórico que se estende ao passado e ao futuro. A ocupação, que Heidegger eleva a traço fundamental…

  • Quem não está ligado a nenhuma coisa e a nenhum lugar determinados, quem caminha e não habita em parte alguma está acima de qualquer perda. Quem não possui nada de determinado também não perde nada: Se um barco está escondido no lodo, se uma montanha está escondida no fundo do mar, pensa-se que estão seguros;…

  • Apesar de seu esforço para deixar para trás o pensamento metafísico, apesar de estar sempre buscando se aproximar do pensamento do Extremo Oriente, Heidegger também permaneceu um filósofo da essência, da casa e da habitação. É verdade que ele deu adeus a alguns padrões de pensamento metafísicos. Mas a figura da essência continua dominando seu…

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

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