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ALAIN BOUTOT (1953)

  • Primeira abordagem da modernidade: a essência da ciência moderna e o projeto matemático da natureza «Um fenômeno essencial dos tempos modernos», diz Heidegger, «é a ciência»(A época das concepções do mundo, Chemins qui ne mènent nulle part, Paris, Gallimard, 1962, p. 69). A ciência não é, certamente, uma invenção moderna, mas entrou numa nova fase…

  • O ser-aí não encontra no mundo que o envolve apenas utensílios de que dispõe, mas também outros ser-aí. O mundo do ser-aí é sempre um mundo comum, é um mundo no seio do qual os outros estão sempre já anunciados. Mesmo só, mesmo quando não há nenhum ser-aí nas suas proximidades imediatas, o ser-aí está…

  • Depois do mundo e do ente que está no mundo, o ser-em (das In-sein) é o terceiro momento estrutural do ser-no-mundo. Corresponde ao momento da abertura do próprio mundo. O ser-aí revela o mundo de um modo sempre diferente, segundo três comportamentos fundamentais (três existenciários) a que Heidegger chama a disposição (Befindlichkeit), o compreender (Verstehen)…

  • A disposição é o humor ou a tonalidade afectiva que alternadamente possuímos e que nos faz parecer alternadamente o mundo desta ou daquela maneira. A disposição não é, porém, um simples fenômeno psicológico, colorindo as coisas e as pessoas, mas é, antes, uma determinação constitutiva do nosso ser. Ela revela ao ser-aí, sempre de maneira…

  • O compreender designa um outro tipo de ligação ao mundo na qual o mundo e o ser-no-mundo se anunciam, mas de maneira diferente, ao ser-aí. Compreendendo, o ser-aí descobre «onde» está consigo mesmo. O compreender possui a estrutura fundamental do projeto (Entwurf). Compreendendo, o ser-aí projeta não somente o mundo, enquanto horizonte significante da preocupação…

  • O discurso, ou antes a discursividade, é o terceiro comportamento à mercê do qual o ser-aí se liga ao mundo ao descobri-lo. O ser-aí é um ser discursivo, o que não quer dizer que ele seja capaz de falar, mas que tem a faculdade de articular o que compreende. Ao articular, o ser-aí liberta e…

  • No fim desta análise, o ser-aí surge como um ser lançado em projeto, no qual entra, no seu ser, em virtude do seu próprio poder ser. Heidegger reúne a multiplicidade destes momentos constitutivos numa estrutura unitária: o cuidado (die Sorge) que representa a estrutura fundamental do ser-aí enquanto ser-no-mundo. O cuidado unifica, ao articulá-los, os…

  • Esta planificação em excesso, este dirigismo que reina sobre as regiões do ente, não quer dizer, contudo, que o homem seja o mestre ou mesmo o organizador deste processo de exploração planetária. Longe de estar nas mãos do homem, a técnica, enquanto ordenação, tem o homem em seu poder. «Em todos os domínios da existência»,…

  • O fenômeno fundamental dos tempos modernos não é, porém, para Heidegger, a ciência, mas a técnica, de que a ciência não é ela própria senão uma das suas múltiplas facetas. «A posição fundamental dos tempos modernos», diz Heidegger, «é a posição técnica» (Concepts Fondamentaux, Paris, Gallimard, 1985, p. 31). A técnica nunca tem, em Heidegger,…

  • O ente ao qual o homem se liga no seu quotidiano não é de modo nenhum um ente subsistente (Vorhanden) que seria percebido numa perspectiva teórica, mas primeiramente e antes de mais qualquer coisa que serve para, que é produzida para. O ser-aí tem a ver antes com os utensílios (Zeug), este termo deve ser…

  • Após a viragem, Heidegger não procura mais encontrar nos seus predecessores as premissas da sua própria interrogação em direção ao ser, mas denuncia o esquecimento a que o conjunto do pensamento ocidental, desde Platão, e mesmo já anteriormente, relegou o ser. Esta inflexão da interpretação revela em Heidegger uma mudança de atitude face à metafísica,…

  • O tratado O Ser e o Tempo assenta inteiramente numa única questão fundamental, a do sentido do ser. «A elaboração concreta da questão do sentido do ser», escreve Heidegger no princípio desta obra, «é o objeto do presente trabalho. O seu fim provisório é o de fornecer uma interpretação do tempo como horizonte de toda…

  • BOUTOT, Alain. Heidegger et Platon. Paris:PUF, p. 29-32 Platão não é certamente o único a se interrogar, na Antiguidade, sobre o ser como tal e em geral. Encontra-se uma interrogação análoga em Aristóteles, no livro Z da Metafísica, mas em um contexto diferente posto que aí não é mais questão do não-ser, como no Sofista.…

  • O fato de o neoplatonismo, e mais especificamente a filosofia de Plotino, não pertencer à tradição metafísica tal como Heidegger a entende (i.e. como ontoteologia) foi sublinhado por J.-L. Marion e sobretudo por P. Aubenque num artigo intitulado “Plotino e a superação da ontologia grega clássica”. Como sabemos, Plotino contesta o primado da ontologia, que…

  • Se quisermos compreender o significado de idea tou agathon em Platão, temos, antes de mais nada, de evitar interpretar agathon com a ajuda de determinações estranhas ao pensamento grego e completamente desconhecidas para ele. Normalmente traduzimos tò agathon por “o Bem”, e com isso queremos dizer o “Bem moral”, aquilo que está de acordo com…

  • O primado do significado verbal do grego τὸ ὄν (o ente) sobre o seu significado nominal, quando este particípio é usado para nomear o objeto da investigação filosófica, é evidente em Platão através da expressão τὸ ὄντως ὄν que o próprio Platão cunhou para designar o que é digno de ser pensado no ente. “Platão”,…

  • A ideia do Bem deu origem a numerosas exegeses por parte dos comentadores. Assim, “na era cristã”, diz-nos Heidegger, “o ἀγαθόν de Platão foi interpretado no sentido do summum bonum, ou seja, como Deus criador”. Esta assimilação do ἀγαθόν platônico ao Deus dos cristãos é, de fato, bastante abusiva, e por uma razão essencial. Pois,…

  • Heidegger distingue cuidadosamente aqui (GA46), como faz em todos os outros lugares, entre Historie e Geschichte, termos que Nietzsche, por sua vez, não diferencia explicitamente, o que não quer dizer que ele os confunda. De modo geral, Historie, que vem do grego ιστορία (exploração, investigação), designa a narrativa ou o conhecimento histórico, enquanto Geschichte se…

  • Vale a pena notar, no final desta análise da questão do ser em Platão, uma evolução na interpretação heideggeriana do pensamento platônico. Esta evolução, a que teremos de voltar, é, de fato, particularmente notória em relação à posição do problema do ser em Platão. Mas é também visível noutros lugares, e em particular através da…

  • O tratado O Ser e o Tempo assenta inteiramente numa única questão fundamental, a do sentido do ser. «A elaboração concreta da questão do sentido do ser», escreve Heidegger no princípio desta obra, «é o objeto do presente trabalho. O seu fim provisório é o de fornecer uma interpretação do tempo como horizonte de toda…

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

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