Aqui devemos inserir algumas observações sobre o termo “enredamento”. Heidegger fala da unidade de existência, facticidade e enredamento, o que poderia apresentar um problema, um problema novamente resultante da problemática da Autenticidade e Inautenticidade. Somos sempre existentes e estamos sempre factualmente aí, desde que sejamos. Na maioria das vezes, mas nem sempre, estamos enredados no mundo. No entanto, esse fator de enredamento é particularmente filtrado nas análises da temporalidade, mais do que os outros fenômenos de inautenticidade, como curiosidade, conversa fiada, ambiguidade etc. Esse fato reflete a preocupação de Heidegger no livro Ser e Tempo com o fenômeno do mundo, que inicialmente e, em sua maior parte, envolve o enredamento nas coisas do mundo em oposição à tomada de posição resoluta do autêntico Si. A palavra Verfallen, que traduzi como enredamento, foi traduzida como decadência, como decair no mundo. Assim, parece haver um conflito aqui entre decair, que envolve movimento, e enredar, que não envolve. Há algo correto no termo decair, já que há movimento envolvido aqui. Mas é um tipo peculiar de movimento. Se decair continuamente em uma armadilha, como Da-sein decai continuamente em direção ao mundo, estou enredado. Verfallen significa um tipo de movimento que não vai a lugar algum; não pode ir. Se, por exemplo, eu for vítima dos encantos de alguém, estou preso, hipnotizado, paralisado; e todos os movimentos, tentativas de sair desse estado não me levarão a lugar algum, mas, ao contrário, consolidarão minha situação.
(STAMBAUGH, Joan. The Real is not the rational. Albany: State university of New York Press, 1986, Capítulo IV)