ser para o outro

Do ponto de vista ontológico, o ser para os outros (Sein zu Anderen) é diferente do ser para coisas simplesmente dadas (vorhandenen Dingen). O “outro” (andere) ente possui, ele mesmo, o modo de ser da presença (Seinsart des Daseins). No ser-com e para os outros (Im Sein mit und zu Anderen), subsiste, portanto, uma relação ontológica entre presenças (Seinsverhältnis von Dasein zu Dasein). Essa relação (Verhältnis), pode-se dizer, já é cada vez constitutiva da própria presença (Dasein), a qual possui por si mesma uma compreensão de ser (Seinsverständnis) e, assim, relaciona-se com a presença. A relação ontológica com os outros torna-se, pois, projeção (Projektion) do próprio ser para si mesmo “num outro”. O outro é um duplo de si mesmo (Der Andere ist eine Dublette des Selbst).

É fácil ver que essa reflexão aparentemente evidente apoia-se em bases pouco sólidas. A pressuposição dessa argumentação de que o ser da presença é para si mesmo o ser para um outro não é justa. Enquanto essa pressuposição não se comprovar evidente em sua justa determinação, permanece enigmático, de que maneira ela haverá de esclarecer a relação da presença para consigo mesma com referência ao outro como outro.

O ser para o outro não é apenas uma remissão (Seinsbezug) ontológica irredutível e autônoma. Ele já está sendo, enquanto ser-com (Mitsein), o ser da presença. Na verdade, não se pode discutir que, com base no ser-com, o conhecer-se reciprocamente concreto depende, muitas vezes, do alcance em que a própria presença sempre se compreende a si mesma; no entanto, isso diz apenas o alcance em que o ser-com os outros essencial se tornou transparente e não se deturpou, o que só é possível porque a presença, enquanto ser-com, já é sempre com os outros. Não é a “empatia” (Einfühlung) que constitui o ser-com. Ao contrário, empatia só é possível com base no ser-com, não podendo ser evitada em seus modos deficientes e predominantes do ser-com, já que estes a motivam. (SZ:124-125; STMS:181-182)

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

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