Schürmann (1982:77-78) – Husserl explora questões que são decididamente metafísicas

destaque

Tomando a descoberta da temporalidade extática, não hesitamos em concordar com o veredito de Heidegger: “Husserl explora questões que são decididamente metafísicas”. [Continuidade metafísica do tempo, e não descontinuidade existencial; preeminência do presente, e não do futuro; retenção e protenção, e não “ter-sido” e “vir-a-ser”; corrente temporal (Zeitstrom), e não o triplo “fora de si” dos êxtases: estas são algumas das oposições que se é tentado a marcar entre Husserl e Heidegger. À primeira vista, porém, não há nada de metafísico no esforço husserliano para reduzir a atitude natural e quotidiana à descrição das essências dos objetos ou das experiências do mundo. Trata-se de um recuo do conhecido para as suas possibilidades, para os atos geradores e formativos do pensamento, um recuo que não envolve qualquer procura de um mundo (77) meta ta physika, para além das coisas sensíveis. Um recuo que, no entanto, assegura uma origem estável para o conhecimento. Que estabilidade é essa? E porque é que a atitude natural é qualificada de pré-filosófica, se não por desconhecer a sua própria origem, por carecer de um fundamento sólido? Ela é colocada entre parênteses para descobrir como os objetos do entendimento vêm à existência, como podem ser ativamente constituídos e auto-evidentes ao mesmo tempo. A disputa entre Heidegger e Husserl joga-se na compreensão do tempo que permite essa colocação entre parêntesis e que preside à redução do olhar natural, bem como à intuição das essências. Para analisar o surgimento dos objetos, o pensamento husserliano afasta-se do empírico, para melhor ver os conteúdos a priori. Será que esta análise escapa ao que Ser e Tempo chama o domínio do ser subsistente e a temporalidade que constitui este domínio: a presença constante?

original

[SCHÜRMANN, Reiner. Le Principe d’anarchie. Heidegger et la question de l’agir. Paris: Seuil, 1982]

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

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