Por fim, também a virtude e a santidade não se originam da reflexão, mas da profundeza íntima da vontade e de sua relação com o conhecimento. A explicitação disso pertence a outro lugar completamente diferente deste escrito. Aqui, porém, permito-me observar que os dogmas que se relacionam com o ético podem até ser os mesmos na faculdade de razão de nações inteiras, porém a conduta de cada indivíduo pode ser outra, e vice-versa. A conduta transcorre, como se diz, conforme o SENTIMENTO, isto é, não segundo conceitos, mas segundo o conteúdo ético. Os dogmas ocupam a razão ociosa; enquanto a conduta segue o seu caminho, em última instância, independentemente deles, a maioria das vezes não conforme máximas abstratas mas conforme máximas indizíveis, cuja expressão é a pessoa inteira mesma. Assim, por mais diferentes que sejam os dogmas religiosos dos povos, o bom feito é acompanhado, entre eles, de contentamento indizível, e o mau de um remorso sem fim: os primeiros não admitem zombaria alguma; dos últimos, padre algum pode nos absolver. Todavia, não se deve negar que, na observância de uma vida virtuosa, o emprego da razão é necessário, embora não seja a fonte da virtude, mas sua função é subordinada, ou seja, manter as decisões tomadas, providenciar máximas para resistência contra fraquezas do momento e para conservação da conduta. O mesmo a razão realiza, ao fim, na arte, onde ela também em nada contribui para o principal, porém apoia a execução, justamente porque o gênio não está sempre desperto e, não obstante, a obra deve ser consumada em todas as suas partes, tornando-se um todo.
Schopenhauer (MVR1:108) – conduta conforme o sentimento, não segundo conceitos
- Schopenhauer (MVR2:90-92) – intuição – abstração – regras
- Schopenhauer (SFM:46-48) – imperativo categórico sem fundamento
- Schopenhauer (SQRPRS:§16) – objeto = representação
- Schopenhauer (SQRPRS:§41) – Sujeito do conhecer e objeto
- Schopenhauer (SQRPRS:§42) – Sujeito do querer
- Schopenhauer [FM:23-25] – lei
- Schopenhauer [FM:4] – ética de Kant como petição de princípio